sábado, 11 de julho de 2009

Chegando em Dédougou - 5° dia

Tínhamos passagem de ônibus comprada para Dédougou com saída prevista para às 8h da matina. Como tínhamos bastante bagagem e sabendo que o pessoal por aqui não é muito pontual, pedimos um táxi para às 7h. 7h... 7h10... 7h20... 7h30... e vimos que o cara não ia aparecer... e tivemos que ir atrás de um outro táxi. Já começamos o dia "aquecidos"!

Chegamos em cima da hora na rodoviária e um rapaz foi etiquetando as malas (escrevendo na fita crepe o numero das nossas passagens). Ele foi logo dizendo que teríamos que pagar excesso de bagagem: 4000 francos (cerca de 6 euros). "Pra quem?", "Pra mim mesmo" foi a resposta. Alguns minutos depois, com algumas malas dentro do ônibus, um senhor que parecia ser o patrão chega perguntando de quem eram todas aquelas malas! Eu disse que eram minhas e ele também disse que teríamos que pagar excesso de bagagem. Eu: " paguei pra ele ali..." Aí o negocio esquentou! O tal do rapaz pelo jeito tentou pegar o dinheiro pra ele, ele não tinha dado o recibo dos 4000 francos que recebeu (que nem sabíamos que era obrigatorio né?). Depois de uma discussão em língua local, eu com cara de bobo do lado, o patrão colocou o funcionário pra correr, literalmente no braço! Como se não bastasse sermos os únicos brancos do ônibus, nossas malas levaram a toda essa confusão... O ônibus estava cheio! é CHEIO! três de um lado, dois do outro, umas 12 fileiras... e no corredor, tamboretes pro pessoal em pé poder sentar. Ok, tudo devidamente abarrotado, com algumas bagagens, inclusive algumas das nossas, umas motos, bicicletas, geladeira, etc.. amarradas no teto do ônibus... enfim, saímos da rodoviária lá pelas 8h30. Uns quinze minutos depois ele pára em outro ponto de Ouaga para levar mais gente! Detalhe: antes dessa parada o bus estava cheio, inclusive o corredor. O mais surpreendente é que o povo entra no ônibus (com a passagem paga na mão), vê que não tem lugar, dá risada, põe a mala no primeiro espaço que encontra e senta em cima. Não vimos ninguém reclamando... deve ser normal! O esquema é comprar com antecedência, pois os lugares não são marcados mas os passageiros entram no ônibus por ordem de reserva. O engraçado também é que eles chamam os passageiros pelo nome!

No caminho para Dédougou? A pobreza no seu limite extremo, crianças trabalhando no campo e árvores lindas. Tivemos uma parada em Koudougou e comemos sanduíche de abacate com cebola e ovo cozido... acreditem: é gostoso!

Chegamos em Dédougou por volta das 14h e o Pierre estava com a Francine (nossa nova vizinha) nos esperando. E desce bagagem... baú, geladeira, bicicleta, etc... agrupadas as malas eu tive a ingenuidade de perguntar por um táxi. A resposta foi uma risada "aqui não tem disso não!" PS: mais tarde a Francine disse "em Ouaga sim tem táxi de verdade!" A solução: chamamos um cara pra levar nossa "mudança" num carrinho de mão. E de novo ficamos com cara de bobos, o cara era um armário e pagava as malas como se fossem travesseiros, inclusive o baú de ferro que sofremos pra carregar a dois! Ele puxou na mão o carro de mão por uns 3 Km num sol de 40°! Discutindo o preço ele ainda manda essa: "sobe todo mundo que eu levo por 2000!" (3 euros). Bem, não foi preciso pois foram nos buscar de moto! Ufa!

Chegando na cour familiale a Francine tinha preparado o uma espécie de angu branco com dois molhos (?)... foi a primeira vez que a Ju comeu com a mão! Caiu bem no frescor dos 40° depois da viagem tranquila! Fomos muito bem recebidos pela família e pela cadela (que se chama "Paciência"). Foi até difícil de retribuir o acolhimento e a alegria deles, pois quando chegamos nos demos conta (não totalmente surpresos) de que apesar de a casa ser nova, recentemente construída, não tem água corrente, nem banheiro e nem cozinha. Como se trata de uma cour familiale "tradicional" no terreno entre a nossa casa e a deles tem um cercadinho com uma fossa, que seria o banheiro e uma casinha (dessa vez com telhado) com uma espécie de fogão a lenha. Pelo momento ficamos por aqui porque esse assunto é delicado, decidimos procurar um outro lugar para ficar mas estamos sem graça de sair daqui depois de tão caloroso acolhimento e do bom clima com a família e com o Pierre que havia "escolhido" essa casa pra gente dividir.

Continuando nossa chegada, fomos comprar nosso colchão, mosqueteiro e ventilador - kit básico de sobrevivência! Fomos acompanhados pelo Pierre, pela Anne e também pela Francine e pelo SamSum (seu cunhado que também mora na cour). E ainda mais que em Ouaga (que é uma cidade maior e onde tem mais brancos) chamamos bastante atenção na rua! Todo mundo vem falar, cumprimentar e desejar boas-vindas! Os mais velhos vem mesmo falando na língua local e o povo se diverte com a gente tentando repetir o que eles dizem! Realmente impressionante! Com a ajuda dos "locais" foi tudo mais fácil de resolver e logo voltamos para casa com a "urgência" resolvida!

Bem... para fixar o mosqueteiro, perguntei para o Pierre como ele tinha feito e ele disse "na mão". Então pega gancho e gira, gira, gira...depois de meia hora os ganchos na parede com uma ajudinha do esparadrapo! Boa a parede!

Ah, apesar da pouca infra-estrutura temos mosaico no chão do banheiro!!! melhor, no chão do quadrado onde tomamos banho de balde! Para escoar a água eles fazem o piso como um funil, colam os azulejos e depois dão umas marteladas para forçá-los a aderir à forma curva do chão. Isto é... novo mas quebrado! Ai ai! O povo todo se vira em tudo!