terça-feira, 10 de novembro de 2009

A esposa em kari

É muito legal ver a importância que as pessoas aqui dão em conhecer alguém da família de um amigo. Os agricultores com quem o Eric trabalha mudam de semblante quando ele me apresenta: “Juliana, minha esposa”. É engraçado porque como somos recém-casados não nos acostumamos ainda, muito menos com o “peso” social que isso representa (em nenhum lugar!). Bem, sendo assim, os agricultores sempre me convidam para conhecer a casa deles, me mandam presentes, etc... O Fidèle, nosso “tutor”, me chama de “a metade”. E eles ficam muito contentes quando eu “apareço”.

Na semana passada o Ouagadougou veio aqui em Dédougou, ele é um dos agricultores com quem o Eric está trabalhando. Ele me convidou para conhecer o seu “coin” (= canto, vilarejo) no dia do mercado, que aliás é difícil guardar na cabeça quando é, pois é a cada 5 dias corridos, por exemplo: se tem mercado numa segunda-feira, o próximo será no sábado e depois na quinta e assim vai. Fomos então nessa última terça-feira para Kari, o “coin” do Ouagadougou. Kari não é longe, fica a 20 Km de Dédougou e a estrada é asfaltada.

Chegando em Kari fomos recebidos por uns 3 Kg de amendoim, de presente! Amendoim do campo dele que a Marie Justine (esposa) preparrou pra gente. Ouagadougou tinha feito um programa: conhecer o seu campo, fazer um tour no vilarejo, ir no mercado e almoçar em casa. Partimos então para o campo. Atualmente os campos estão cheinhos de algodão! Está lindo! Ele mostrou como colher o algodão e estamos escalados para a colheita! O pouquinho de tudo que colhi hoje está guardado! Paramos em não sei quantos cabarés para beber (nome dado para as cours que fazem o dolô). O povo bebe muito dolô (principalmente em dia de mercado) a gente não acompanha! O mercado é legal, agitado! Comprei um tecido típico daqui bonito e provamos o benhê num formato diferente (tipo nossos bolinhos de chuva, mais massudos).

Mas a melhor cena foi voltando para casa... o Oauagadougou é muito engraçado! Andar com ele é divertido... na cour dele tinha uma “tubabu” antropóloga entrevistando dois caras, ela usava um gravador, bloco de notas, etc. Sentamos então e a esposa dele me chamou, ela estava me esperando para me mostrar como fazer o molho do baobá (nosso almoço). Então ficamos num canto e a Marie (a pesquisadora) estava num outro canto trabalhando. Num intervalo ela veio falar com a gente, foi simpática, nos contou o que está fazendo, etc. Mas sinceramente ela tem um ar de “vim aqui fazer um favor”. Bom, eis que chega o próximo entrevistado com a “cara cheia de dolô”. Ela se sentou e começou a conversar e a gravar... e o cara estava completamente bêbado!! ... Duro! Mas a cena foi divertida. No final ela “reclamou” com o Ouagadougou que nem esquentou a cabeça, tranquilão, “é, ele bebou um pouco”. Sabemos que ela mora em outro vilarejo, mas não entendemos se ele recebe ela lá para trabalhar e porque ela “reclamou” com ele, mas que foi engraçado foi!

Voltando para o almoço, (Marina essa é pra você!): a Justine fez passo a passo do molho de baobá para eu ver. Ela sabia que eu queria saber detalhes da receita para passar para a Marina e fez questão de me esperar. Difícil vai ser fazer fora do Burkina porque os ingredientes imagino que não podemos encontrar em outro lugar. Marina, vamos levar o restante dos ingredientes para você, é que achamos que era apenas a folha do baobá... pelo menos já levamos moído né?

Bem, missão cumprida, todos contentes e rumo de casa!