terça-feira, 29 de setembro de 2009

Bobo-dioulasso

Nosso último final de semana da primeira fase aqui na África foi ótimo. Precisávamos desse tempo! Fomos para Bobo-dioulasso que fica à 180 Km de Dédougou. Bobo é considerada a segunda cidade do Burkina, tem como símbolo o djembé, instrumento musical que representa a cultura dos povos da região. Saímos no sábado de manhã e fomos de moto porque a estrada é toda asfaltada até lá. Fomos nós dois na nossa moto e o Pierre levou a Janete de carona na moto dele. A Janete é a sobrinha da Francine que mora em Bobo mas passou uns dias de férias aqui. A Anne veio de Ouaga. No início foi legal, mas depois de um tempo doeu bastante o bumbum! Fizemos duas pausas na estrada, estava muito quente e a paisagem estava linda, africana mesmo! Assim que chegamos na cidade, perto do meio-dia, nossa moto pifou! A sorte foi que paramos bem em frente a um senhor mecânico que foi super legal. Ele é militar aposentado e estava na ativa na época do Sankara (ex-presidente assassinado que iniciou a revolução do Burkina Faso).

Bem, situação resolvida e fomos para o albergue deixar as nossas coisas e almoçar. O albergue se chama Zion, é pequeno, bem simples e gostosinho, só tinha a gente e mais quatro pessoas hospedadas. A dona se chama Camile (uma francesa totalmente fora do padrão) casada com um burquinabês, eles têm duas filhinhas. Pela primeira vez desde que chegamos aqui vimos uma criança brincar com brinquedo de verdade. Elas estavam brincando de boneca e a menorzinha amarrou a boneca dela nas costas com um tecido como as mulheres fazem aqui com os bebês... uma graça! O clima é bem legal no albergue, tem um restaurante e funciona um bar, de vez em quando tem shows, vendem artesanato... e como cita o guia Routard "o clima é rasta e às vezes bastante esfumaçado". A Camile cozinhou pra gente e fez pratos vegetarianos especialmente nós :)

Ainda no sábado fomos no mercado municipal. O mercado de Bobo é bem legal, maior e bem mais arrumadinho do que o de Dédougou. Ele foi totalmente reconstruído e restaurado e desde 2001, quando abriu novamente suas portas, atrai muitos comerciantes de Guinée, Mali, Ghana, Costa do Marfim e turistas, tudo isso porque Bobo é bem situada geograficamente falando e se desenvolveu muito nos últimos anos. Mas a cidade ainda preserva antigos bairros e costumes dos vilarejos do interior, o animismo ainda é bastante praticado e há também uma forte influência do islamismo... um conjunto de variedades, misturas e etnias que mantém o seu charme.

Infelizmente não tivemos muito tempo no mercado pois ele fecha cedo, ficamos umas 2 horas que passaram muito rápido. No mercado tem de tudo (roupas "modernas", produtos de beleza, cestos, tecidos tradicionais, peças de cerâmica e artesanato bem original)! Andamos pouco por lá e ficamos um bom tempo numa mesma tenda negociando preço. Um barato! Quando chegamos fomos cercado por um senhor (Jacquie) que nos levou até a tenda dele, só artesanato (colares, estatuetas, mascaras, tecidos)... ele é um bom comerciante mas nós já pegamos toda a "manha" deles também e pagamos bem menos da metade do preço inicial!

Saindo do mercado fomos para casa descansar um pouco. Jantamos e fomos para o maquis Bois d'Ebène (Bosque do Ébano) onde teve o festival de música que a Anne veio para trabalhar representando o Centro Cultural Francês de Ouaga. A Janete e um primo dela veio encontrar a gente também. Foram 11 grupos de música tradicional, moderna e "fusão". Rimos muito! Os grupos são bons mas o som estava horrível e a "performance" dos apresentadores e do que parecia ser o "chefe de palco" divertiu muito a gente! Teve uma banda tradicional completa com uma cantora que é até conhecida, mas tinha no grupo deles um dançarino que não tinha nada a ver com o que estava acontecendo, ele fazia uns passos de dança tradicional com balé moderno e yoga (ele fez até uma invertida no palco) com uma roupitcha que estava muito engraçado, apelidamos ele de Ney Mato Grosso Burquinabês (guardada as devidas proporções, que o Ney Matogrosso não se sinta ofendido - não tem comparação)!

No domingo acordamos calmamente, bem no ritmo local, sem pressa para nada, demoramos para tomar café, para comer e para sair. Fomos visitar a Guinguette que fica dentro da Floresta Sagrada do Kou (onde nasce o rio do mesmo nome). é simplesmente um local FANTÁSTICO! O local é conhecido por Guinguette porque esse é o nome dado a um espaço que os colonizadores construíram no meio da floresta para fazer festa nos domingos. Até um tempo atrás era permitido tomar banho nos rios e nas piscinas naturais. Tem locais para rituais animistas e ainda é bastante frequentado para sacrifícios e dependendo da época aparecem os elefantes e os hipopotamos. Adoramos visitar essa floresta, nos sentimos no cenário do Indiana Jones! Como nada é perfeito os mosquitos irritaram um pouco mas nada perto da satisfação de estar ali!

Logo depois desse passeio paramos na estrada para comer alguma coisa. Hum! Que lugarzinho gostoso! O engraçado é que as galinhas ficam soltas por ali e de vez em quando passava o cozinheiro para matar uma delas para cozinhar!

Aproveitando ainda para conhecer mais alguma coisa em Bobo, passamos na antiga mesquita (Mosquée de Dioulasso-Bâ) datada de 1894. Já estava escurecendo e não conseguimos tirar fotos, vai ficar para a próxima. A mesquita é realmente diferente, sua arquitetura é sudanesa (do Sudão) e ela é toda feita de barro. As torres (minaret = de onde os fiéis são chamados para rezar) são na forma de cones e toda ela foi erguida com paus de madeira. Conta a história que no fim do século XIX o rei de Sya (antigo nome de Bobo) pediu ajuda ao chefe religioso dos muçulmanos para se defender do ataque de Tiéba le Grand (rei de Kénédougou). O religioso aceitou em troca da ajuda do rei para construir essa grande mesquita. Mas ela teve que ser construída onde também são feitos rituais animistas, e parece que os dois grupos vivem em paz, respeitando os horários e festas de cada religião.

Ainda fomos mais uma vez no Bois d'Ebène para o encerramento do festival. Dessa vez para assistir os vencedores. Foi mais divertido ainda, dessa vez o Pierre foi convocado para entregar os prêmios também e o convite veio da forma mais engraçada "Anne, qual o nome do teu namorado? Não tem mais ninguém aqui pra entregar os prêmios!" E os apresentadores começaram dizendo que as personalidades presentes é que entregariam os prêmios e certificados! Tínhamos jantado lasanha no albergue e ficamos com vontade de comer um doce, como quem não quer nada perguntamos no bar (que também é restaurante) se tinha algo doce para comer. Primeiro a garçonete responde "eu não sei, eu não sou a cozinheira" mas ela chamou o cozinheiro, um senhor já, que nos propôs banana flambada e crepe!!! :) Estava bom! Ele veio fazer as bananas na nossa frente e tudo!

Ainda não acaba por aqui nossas aventuras em Bobo. Na segunda de manhã saímos cedo porque combinamos de voltar de ônibus. Na gare, aquela cena, todo mundo chegando com tudo pra colocar no ônibus: sacos, cestos, animais, motos, etc. Ok, chegamos e fomos providenciar o "embarque das motos", eles embalam com papelão e isso demora um pouquinho. Mexe daqui e dali, ainda teve uma cena de um cara empurrando uns pacotes de papelão para caber não sei o que e eis que a caixa arrebenta e começa a vazar o conteúdo: peixe fresco! Dá a hora do ônibus partir e nada. Nessa eles já tinham tirado e recolocado a roda da nossa moto para caber no bagageiro (dessa vez o ônibus tinha bagageiro). Ok, meia hora depois (já estava bem quente) estávamos dentro do bus sentados esperando ele sair. De repente um movimento, gente descendo e falando "é para descer, temos que trocar de ônibus". Nos olhamos os três "trocar???" - observação: tudo aquilo que vem no ônibus já estava "arrumado" - desce tudo, sobe tudo... saímos com uma hora e meia de atraso de Bobo! Enfim!? Ainda em Bobo o ônibus faz uma parada e entra um senhor com um pneu de caminhão DENTRO do ônibus, isso mesmo, pneu de caminhão, sujo, e para ajudar um tonel de plástico de 130l por cima!

Definitivamente, ganhamos pouco mas nos divertimos muito!!!