sexta-feira, 31 de julho de 2009

Aw ni wula!

Agora somos também estudantes de Dioula!!! uma das línguas locais do Burkina Faso.
Aw ni wula
quer dizer boa noite! Além de ser a língua local da região de Dédougou, o Dioula é importante aqui na África Ocidental pois é uma língua comercial; mesmo que não seja a língua de algumas cidades no Burkina podemos nos comunicar usando ela! Eric, Pierre e eu estamos fazendo 3 aulas por semana, à noite. O nosso professor é o Laurent, um burkinabês, pra variar gente boa, que é formado na área de letras, conhece bem as duas línguas (Francês e Dioula) e inclusive faz traduções nos vilarejos onde o povo é praticamente analfabeto. Estamos aprendendo a origem de algumas palavras, é bem interessante, o difícil mesmo é por em prática, pois o Dioula não é parecido com nada que conhecemos! Por exemplo, eles chamam o adubo de nogo e o adubo químico, produto químico, eles chamam de tubabu-nogo que significa adubo dos brancos! Lembram que as crianças chamam a gente na rua de tubabu? Pois é... muitas palavras que pra eles estão associadas à cultura ocidental, eles acrescentam o "tubabu" para distinguir do familiar. Mas o nogo está escrito errado, na verdade o alfabeto deles é um pouco diferente e o "o" da palavra nogo por exemplo é uma vogal parecida com um "c" ao contrario, em meia-lua e se lê "ó".

Bem, fora nossas descobertas com o Dioula, a semana foi ainda de "arrumações". Chegou a nossa cama, um armário e uma mesa de escritório, tudo bem simples, naquele jeito que contamos aqui... mais ou menos bem feito. Chegou também a nossa geladeira (tipo frigo-bar)! Isso foi bom! Mas foi uma história! Depois do Eric negociar aqui e ali, o Moussa ligou para o amigo dele trazer de não sei onde, era pra chegar na segunda-feira. Mas, parece que o ônibus quebrou na estrada e ficou. Liga pra e pra , chega hoje, amanhã... e finalmente chegou dois dias depois, na quarta-feira. Como tem chovido quase todos os dias desde o início da semana, as estradas estão ruins e pode ser que a geladeira tenha dormido mesmo na estrada...

Falando em chuva, hoje choveu muito! Muito! E descobrimos outras goteiras pela casa, não é só uma como tínhamos pensado! Tivemos que mudar de lugar a nossa mesa com nossos livros, estava quase tudo arrumado! Mas tudo bem, até temos uma cortina pra separar o box do resto do banheiro. Quem sabe agora paramos de molhar o vaso durante o banho! Só sei que numa noite em que a chuva veio de madrugada eu acordei o Eric... fiquei com medo da chuva que nem criança assustada! Muito forte, ventania e muito barulho no nosso telhado!

Vários vizinhos vieram visitar a gente! Entram, chegam, sentam... conversam e se mostram surpresos quando falamos que somos do Brasil! Todos ligam logo ao futebol e às novelas (aqui está passando "Páginas da vida"). Quem vem mesmo são as crianças. Hoje, logo depois da chuva, Eric ouviu um barulho no quintal e entrou em casa falando "Ju, tem umas 8 crianças fora, sentadas na varanda!" rsrs Eu perguntei para as crianças o que elas faziam nas férias (aqui estamos nas férias de verão, aulas em setembro) e a resposta é sempre "nada" ou quando são as meninas "lavar roupa, prato, cozinhar, etc" e os meninos "cuidar dos animais, buscar água". Crianças aqui trabalham, principalmente as meninas! Mas como estava na hora do almoço e tínhamos que esperar a "ciesta" acabar para sair, eu perguntei se eles gostavam de desenhar... e os sorrisos tímidos me deram a resposta. Entrei, busquei papel, canetinha e lápis de cor... passamos uns 30 minutos desenhando... todos querendo mostrar o desenho! Contentes! Uns 3 pequenos não entendem francês e eu muito mal o Dioula, mas os desenhos e o colorido expressaram a alegria deles também!

O Azer também veio aqui um dia desses, o Eric foi buscar ele em casa pra passar período da ciesta com a gente. Ele pediu banana e biscoito, deu umas voltas e depois desenhou a casa com um baoba no quintal! A Leticia, tia dele que está passando as férias aqui, não pôde vir... a Francine não deixou... ela tinha muito trabalho pra fazer em casa, ficamos surpresos e chateados, pois havíamos prometido e ela é uma criança, mas tampouco podemos reagir.

Nossos amigos Anaïs (canadense que trabalha temporariamente na UGCPA), Ismael ("irmão burkinabês" da Anaïs ), Youl e Pierre vieram aqui também... falamos de tudo um pouco! Até vídeo do Ayrton Sena rolou! E até a nossa vizinha de cour, Natacha, se sentou com a gente! Tudo regado à pipoca, amendoim e cerveja!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Toi, mon ami...

Semana passada, além de todas as peripécias que contamos, encontramos um sábio africano! é, acho que podemos chamar assim nosso novo amigo Fidèle Toé. Ele nos foi indicado por um colega da instituição que me recebeu por aqui (UGCPA). Não sabemos ao certo sua idade, mas tem seus cabelos brancos, e por ser um negro vocês sabem que isso significa muita experiência! Ele é do ramo das comunicações, foi jornalista, documentarista e entre idas e vindas trabalhou um bocado em contextos multiculturais, ou melhor ajudando ocidentais a entenderem um pouco melhor as culturas locais (daqui da região onde estamos). Fala sei quantas línguas, viajou pra tudo quanto é canto e em nossa primeira conversa nos indicou um livro: Toi, mon ami (Você, meu amigo), escrito por um canadense André Beaudoin, que viveu em Dédougou um tempo, e teve a sorte de encontrar o Fidèle para ajuda-lo em sua integração às comunidades daqui. O livro é um relato das impressões de um ocidental face às tradições locais, e por varias vezes é transcrição de diálogos entre o autor e o próprio Fidèle. D e v o r a m o s esse livro! e voltamos a procurar Fidèle para discutir alguns pontos mais intrigantes!

Ele não conversou com a gente sobre o livro, nos recebendo em sua casa, mas também passou o resto do dia com a gente, nos levando em locais históricos da cidade, nos apresentando pra todo mundo que encontrava pelo caminho, nos levando pra tomar cerveja e depois pra jantar! Uma recepção digna da impressão que vínhamos fazendo dos burkinabeses.

Na nossa conversa sobre o livro, um dos assuntos que mais nos interessou é como as comunidades locais lidam com a morte. "O nascimento pertence à mãe, a vida pertence ao individuo, a morte pertence à sociedade." Fidèle nos explicou como que muitas vezes o tempo entre a morte e o enterro pode ser bastante longo, o importante é ter tempo suficiente para que os conhecidos do falecido venham ao enterro, e todos os preparativos possam ser feitos à altura daquele que se foi. Por um lado, o enterro é um momento solene de homenagens ao que se foi: um representante de cada ramo da sociedade em que o individuo atuou (um familiar, um colega do trabalho, um vizinho, ...) toma a palavra para dizer como e porque o falecido fez a diferença nesse domínio. O mais interessante é que, além desse caráter de homenagem, esse evento é uma verdadeira coletânea oral dos conhecimentos do falecido, uma maneira de transmitir a todos os presentes um pouco do saber daquele que se foi. Trata-se no fundo do famoso KM (knowledge management, gestão de conhecimentos) que todas as empresas do ocidente penam para colocar em pratica atualmente! e eles fazem isso pra toda a sociedade! uma reciclagem oral da sabedoria do falecido para que seu conhecimento possa se integrar ao da sociedade. Por isso eles dizem que a "morte pertence à sociedade"!

Aqui, cada individuo tem o seu valor, independentemente das suas conquistas profissionais ou pessoais. Após a morte, por mais simples que tenha sido a vida do falecido, haverá sempre pessoas lembrando o que ele sabia, o que ele representou para cada um dos que ficam.

Uma outra coisa fantástica sobre o povo burkinabês que descobrimos com o Fidèle é a "familiarité par plaisanterie" (familiaridade por gozação), uma brincadeira com consequências muito sérias e positivas para a paz do pais! poderia ser visto como uma estratégia geopolítica! e alias, deveria! assim quem sabe povos tão diferentes no mundo poderiam brincar sobre suas diferenças ao invés de instigar guerras com base nelas. Existem muitas etnias no Burkina Faso (mais de 60!), no passado guerras foram travadas entre essas etnias pelo controle do território. Não se sabe bem quando nem como, mas instituiu-se na cultural geral uma espécie de permissão à gozação entre algumas etnias. Assim eles se permitem "zoar" uns com os outros, aceitando tudo com bom humor, o que serve como valvula de escape para a tensões que poderiam ser criadas pelas diferenças. Essas brincadeiras são feitas de maneira sistemática! Por exemplo: cada vez que um Samo encontra um Mossi, ele vai fazer uma piada sobre a fraqueza/estupidez/covardia/falta de educação dos Mossi, e o Mossi vai responder à altura! é uma maneira fantástica deles conhecerem novas pessoas! presenciamos o Fidèle soltando uma gozação no ar, assim como quem não quer nada, e gerar uma reação em outras mesas, o que ja serve de desculpa para puxar um papo com desconhecidos. Pra gente, presenciar esse jogo social é uma maneira divertida de conhecer as diferenças étnicas daqui. Sem a familiaridade por gozação dificilmente etnias tão diferentes como as presentes no Burkina teriam conseguido viver em paz durante tanto tempo. Mais uma lição pra todos nós! Quem dera palestinos e israelitas levassem a sério essa brincadeira!

O Fidèle será um conselheiro para a minha tese, mas sabemos que o que aprenderemos com ele ira muito além do trabalho acadêmico! é o que finalmente viemos buscar aqui na Africa! :-)

sábado, 25 de julho de 2009

Na nova casa!

Estamos atualizando o blog sentadinhos na varanda da nossa nova casa e admirando uma lua linda! A casa tem água corrente, cozinha (com pia e torneira) e banheiro (com ducha, vaso sanitário e pia)!!! Ela ainda não tem forro no teto, mas ontem choveu a noite e tivemos uma goteira :) A casa é grande para nós dois, mas foi o que encontramos!

Nos mudamos na quinta-feira, dia 23. Conseguimos uma ajuda do pessoal da UGCPA, eles emprestaram o carro pra gente poder transportar nossas malinhas (com motorista e tudo). Foi rápido, voltamos em casa e foi o tempo de arrumar o que estava fora das malas. O pessoal sabia que talvez mudaríamos, mas o Azer (filho da Francine) fez uma cara de "não estou entendendo nada" e veio perguntar para a Ju "tia, você vai viajar?" Pronto! 10 dias nessa cour foram o suficiente para a choradeira! Azer e Ju choraram como se os 6 meses tivessem passado. No final das contas é até melhor assim, essa dependência emocional não ajuda muito (nenhum lado) e para nós dois vai ser bom ter um espaço mais reservado, as crianças entravam na casa, ficavam curiosos com o computador ligado... o que na medida do tempo e das páginas da tese do Eric crescendo poderia cansar. Nem sempre estamos dispostos a dar atenção pois precisamos de concentração e descanso também e na cour tem sempre alguém pronto para conversar.

Enquanto passamos a semana vendo casas (visitamos 6) e esperando essa ficar pronta, muitas coisas aconteceram. No geral, estamos naquele processo de adaptação: sentindo muito calor, estranhando a comida, nos familiarizando com a moto, com o "trânsito" e com o som que vem das mesquitas varias vezes no dia -inclusive às 4h da manhã! - "convocando" os muçulmanos para a oração. Ainda, querendo nos acostumar com a idéia de que ficamos sujinhos mesmo todo dia (suor + poeira que cola no protetor solar e no óleo contra mosquitos). MAS algumas coisas nos agradam muito: o entardecer, o céu à noite, o barulhinho de grilo, cabra, vaca... tranquilidade e o contato com o povo!

No domingo passado fomos recebidos pelo "Monsieur le DREBA" - Ganou Gnissa (Diretor Regional de Ensino Básico e Alfabetização). Apesar de ser uma "autoridade", nos recebeu com roupa de domingo e muita simpatia! Conversamos rapidamente e no dia seguinte ele levou a Ju para visitar uma colônia de férias que ele ajuda como padrinho. As crianças estavam em circulo embaixo de um carramanchão e cantaram uma cantiga de boas-vindas para a Ju! Foi emocionante! A tarde ainda teve uma reunião com o responsável pelas Tecnologias da DREBA e na saída, o Ganou se despediu da Ju na casa dele (ele mora na sede da DREBA)... ele tem uma tartaruga enorme no quintal, ela deve ter uns 40 anos!

As 7h e algo da manhã do dia seguinte (o dia começa cedo e ligam mesmo cedo pra gente, normal) o Ganou liga: encontro com o responsável da colônia. Armand é um rapaz que trabalha no Ministério da Juventude e do Emprego, educador de formação, cheio de convicções e boas iniciativas! Entre outras, ele nos apresentou um professor de Dioula (língua local)!!! Vamos começar em breve nossas aulas particulares...

Comentários culturais: nas conversas com os homens, predomina sempre o lado machista. Os cristãos podem se casar com uma mulher, os muçulmanos com até 4 e os animistas com quantas quiserem. A mulher sempre inferior ao homem, não fica bem socialmente para ele se ela se sobressai em algo (profissional ou socialmente). Em alguns situações, depois de darem informações por exemplo, eles vêm com gracinha, sugerindo ao Eric de deixar a Ju com eles! Ou alguns dizem que queriam ter uma brasileira como segunda esposa! O Eric deixa bem claro sempre apresentando a Ju como "esposa"... isto é, casada! E independentemente da religião a mulher tem direito de se casar com um homem e ponto.

Também falando sobre o "jeitinho burquinabês de ser"... buscando comprar coisas para nos instalarmos aqui, neste caso faca para cortar legumes, colher de pau, geladeira, espanta-mosquitos... nunca tem lojas especificas ... e quando pedimos informação: "eu não tenho aqui, mas sei quem tem, quer que buscar ou quer alguém pra te levar ?" ou mandam alguém acompanhar a gente até o local ou ligam pra pessoa e marcam "passa aqui amanhã à tarde que vou ligar pro meu amigo enquanto isso". Muito engraçado! Desde ontem estamos atrás da geladeira, um frigo-bar, mas não se vende aqui. Perguntam "vocês querem novo?" E respondemos "sim! Como fazemos para escolher?" O rapaz de um mercadinho nos colocou em contato com alguém que traz de não sabemos onde... detalhe: a negociação é feita com a descrição da geladeira e é dado um preço (a marca não faz parte da descrição, segundo eles "tanto faz"). E o Moustafa, da lojinha de bacias, baldes, etc disse pra gente que o amigo dele traz até segunda igual a que ele levou a gente pra ver na lojinha de bebida ao lado... na caixa e tudo! Ai ai... falando nele, seu Eric pergunta se ele tinha escorredor de louça (????) rsrsrs ele nem entendeu... além de cozinha com pia ainda queremos escorredor? Estamos pedindo muito ?

Eric... entre idas e vindas, encontros e momentos na cour... trabalhou num artigo que tem que entregar esse final de semana!

sábado, 18 de julho de 2009

A VITÓRIA

Mensagem enviada pela amiga Reem...

Quer vencer os desafios? Confie em Deus!
Quer ser bom no que faz? Pratique!
Quer alcançar o objetivo? Jamais desista!
Quer crescer? Tenha raízes!
Quer ver resultados? Persevere!
Quer ser feliz? Esqueça o passado!
Quer falar bem? Escute melhor!
Quer aprender? Persista em ler!
Quer realização pessoal? Sirva!
Quer fazer diferença? Pague o preço!
Aqueles que nada fazem e esperam algum tipo de vitória estão enganados.
A vitória é dos que lutam, dos que agem, dos que "saem do porto".
A vitória é dos que se arriscam para alcançar o alto da montanha.
( Edilson Ramos )

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Era uma casa muito engraçada...

Seguimos com o dilema de encontrar uma casa com água encanada. Passamos os últimos 3 dias mais ou menos nessa... verdade que estamos um pouco estressados com isso para começar a pensar nas atividades aqui, chegar a ter uma rotina... efetivamente. Começa a tomar uma proporção maior ter tudo dentro de mala, não ter as coisas em volta muito limpas e... não ter uma pia ali logo em seguida! O problema é que se tentamos nos instalar melhor (mesa, armário, etc) se torna mais complicado fazer a mudança novamente, pôr de volta as coisas na mala e transportar tudo de novo. Lembrem-se: não tem táxi, apenas carrinho de mão!

Fomos ver 3 casas. Interessante como o conceito de casa é diferente. Até agora em nenhuma delas tinha o que podemos chamar de cozinha. A primeira que visitamos é enorme, fora alguns detalhes também não tem água corrente... então descartada. A segunda até tem um vaso sanitário e uma ducha dentro da casa, mas não tem pia, somente uma torneira no chão junto da ducha. Sem contar que além de grande, as paredes estão muito sujas e o banheiro... uf! Teríamos um certo trabalho para deixá-la habitável. A que vimos hoje é relativamente boa, tem banheiro dentro de casa e é nova, mas não tem ainda água corrente... mas tem vaso sanitário! O Youl e o Youssef, que estão nos ajudando, dizem que por aqui não tem muitas "casas europeias", "vocês brancos, pra ir no banheiro, sentam como se fosse numa cadeira, nós não, é no joelho mesmo!" Engraçado, nunca pensei que fosse tão complexo ter água encanada e, sobretudo, uma pia, um vaso sanitário. Será que pra eles somente os europeus têm banheiro dentro de casa? Europeu=branco? Acho que não precisamos contar aqui muitos detalhes dessa parte de banheiro, ? Não tenho aqui dados concretos, mas pode ser que realmente uma boa parte da população mundial vive nessas condições, melhor, o que nós brancos chamamos de "condições". Quanto à cozinha... os africanos ficam boa parte do tempo fora de casa, no quintal. Cozinhar é à lenha, no chão... faz um certo sentido ter que ser fora de casa ? Com esse calor que faz aqui ter uma "lareira" dentro de casa é desnecessário!!! Mesmo assim estamos estudando como adaptar as coisas aqui onde estamos, se a solução for ficar (pois não encontramos até agora nada que valha à pena). Hoje compramos um fogãozinho à gás, de 3 bocas... pelo menos para podermos cozinhar algo mais familiar e um penico para eventais emergências. Ontem à noite choveu torrencialmente... e ai? Como fica?

Mudando de assunto... porque não é isso que temos feito por aqui... ainda na quarta, depois do desfile e fotos da noite anterior, uma vizinha veio pedir para tirar fotos dela com uma roupa tradicional também. Dessa vez foi rápido, a Francine trocou de roupa para tirar foto com ela. Interessante ver que pra eles ainda é algo diferente tirar foto! Ontem eu tive uma ideia para poder tirar fotos por ai! Chamei o Azer (filho da Francine, 9 anos) e a Leticia (uma das irmãs da Francine que está passando as férias aqui, 12 anos) para passear e tirar fotos dos animais! Foi uma festa!!! Comecei com os dois e teve uma hora que contei, devia ter umas 20 crianças em volta de mim. Eles entravam em outras casas, falavam com os vizinhos, tiravam fotos dos bichos, das crianças, dos velhinhos... engraçado, mais gente atrás da camêra do que na frente para ser fotografado! Uma briga pra ver como a foto ficou, como se fosse desaparecer no minuto seguinte! Foi divertido, me deu um levante e me emocionou ver a criançada se divertindo com algo diferente pra eles.

A noite o Pierre inventou de fazer crepes! Uff! Que bagunça! Trouxemos o fogãozinho à gás da Francine, fizemos a massa, molho, banana, côco ralado, leite condensado... mas não visualizem o crepe que conhecemos... foi quase isso! O Azer consegue tirar fotos direitinho e ele tirou algumas desse evento. Ah! A Leticia veio perguntar se ela podia passar a mão nas minhas pintinhas (no braço)... fofa ? Eles ficam muito curiosos, ela fez uma cara engraçada "mas o que que tem dentro?"

No mais... Eric hoje teve uma reunião com um outro senhor importante, o Fidélé Toe. Esse senhor trabalha com um pouco de tudo, ele foi um dos responsáveis pela criação da UGCPA, faz documentários, participa de associações, conhece todo mundo, etc. No final da reunião Eric comentou de mim, ele se prontificou logo em me apresentar num projeto daqui. Horas depois da reunião ele aparece aqui em casa, com um livro pro Eric e um documento do tal projeto pra mim, trata-se do WEDUS... um projeto que tem aqui em Dédougou sobre inclusão digital. Mando noticias sobre... ele disse que se eu me interessar ele vai me levar . Com isso ele comentou que tem que nos apresentar para as autoridades daqui, que é muito importante sermos apresentados e saludar os burquinabeses através de um "local". Bem... estamos agradecidos por mais essa!

"Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali ...
mas era feita com muito esmero na rua dos bobos, numero zero"

terça-feira, 14 de julho de 2009

Le 14 juillet - 8° dia

Não estamos na França mas até que foi um dia de festa... podemos dizer. Comecei lenta porque não dormi bem hoje. Eric foi para a UGCPA (União de Grupos de Agricultores para a Comercialização de Produtos Agrícolas , onde ele fará parte do seu trabalho) e eu fui no mercado da cidade com a Anne, a Francine e o Samsum. O mercado é feio e sujo, mas muito divertido! Compramos os ingredientes para fazer pratos tradicionais a pedido da Anne que vai embora amanhã cedo.

Praticamente comemos a tarde inteira. O prato principal era o Farô, um feijão branco que é batido no pilão, passado no moinho (o pilão eles têm em casa, mas para o moinho as crianças levaram num lugar da vizinhança), batido com cebola, alho, um pouco de água e um produto natural (?) para dar consistência e diminuir os efeitos "gasosos" da digestão do feijão. Essa pasta é colocada em saquinhos de plástico e cozida no vapor. O Farô é então servido com molho de tomate, cebola e pimentão (molho vegetariano feito especialmente por nossa causa). Enquanto tudo isso ia acontecendo tivemos pratos de entrada: o Aloco (banana frita) com pão e também um bolinho frito da massa do feijão (base do Farô). E depois do Farô ainda teve um biscoitinho salgado de amendoim.

No início da noite a Francine e a Sylvie (sobrinha) trouxeram um monte de roupas tradicionais para Anne e eu experimentármos... foi um desfile com direito a sessão de fotos! Nos divertimos muito.

A noite saímos com o Pierre e a Anne para brindar a Revolução Francesa! e voltando para casa a Francine tinha preparado novamente o ! Mas dessa vez não dava mais pra comer!

Hoje a Sylvie lavou a nossa roupa (na mão). Ela cuida da casa e da Enice (a bebê). Diz o Pierre que geralmente as meninas trabalham desde cedo para juntar dinheiro para ter um dote de casamento. Bem, assim ela nos ajuda, melhor, nos tira do sufoco e ajudamos também!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Kaizer e Onatel - 7° dia

... hoje foi o terceiro dia que comi omelete com pão! Tem sim uma parte disso que é se acostumar com a comida, mas é também -principalmente - por causa do calor e da quantidade que eles colocam no prato. Umas duas vezes que comemos em restaurante pedimos para colocar pouca comida, a metade do que eles colocam na tigela. Mas não sei porque eles dizem "ok" e trazem o prato cheio! Não aguento comer tudo e fico chateada de deixar comida no prato... diz a Anne que depois eles dão para alguém, mas mesmo assim fico sem graça... e então o omelete é uma opção de menor quantidade e menos "pesada" que as comidas mais comuns.

Bem, depois do omelete fomos encontrar o Youl para comprarmos a mobilete do Eric (não tem ônibus, nem táxi né!). Ele foi com a gente, é muito importante ter um "local" por perto! Preço para "branco" é diferente e como em todo lugar novo, podemos ser enrolados. Tudo ok, mas por aqui novo não quer dizer novo... são coisas diferentes! A moto zerada veio com vários arranhões e o farol rachado mas não tinha alternativa... bem, ao menos serviu pra conseguir um desconto a mais. Os arranhões, acabamentos, esses detalhes para eles não são nada, não tem a mínima importância e não tem como "reclamar"! Enfim...

Youl me mostrou a barraquinha dele e me deu de presente uma pulserinha de couro e para o Eric um chaveiro com um elefante esculpido em madeira para a nova moto! Ele faz coisas lindas e instrumentos musicais também! Podem fazer encomendas!

Em posse do nosso meio de transporte fomos atrás de Internet e temos também um meio de comunicação! Até conseguimos falar com nossos pais por skype, mas corta bastante. Como a conexão se pela rede da Onatel (celular), ainda estamos testando o melhor horário, com pouca "demanda".

domingo, 12 de julho de 2009

Youl - 6° dia

Passamos praticamente nosso domingo conversando com o pessoal aqui. Fomos almoçar num restô com o outro casal de brancos (o Pierre e a Anne)... arroz com molho de legumes e carne. Nos divertimos com as crianças e com um cabritinho que parou aqui no quintal.

Fomos num maquis comemorar nosso primeiro mês de casados em grande estilo e encontrar o Youl, amigo do pessoal. Ele é artesão e namora a Rosane, uma canadense da ONG Engenheiros sem Fronteiras que trabalha aqui (não a conhecemos ainda, ela está no Canadá passando férias). Foi o Youl quem ajudou o Pierre a encontrar a casa onde estamos e aproveitamos o clima para pedir a ele ajuda para procurar, quem sabe, uma alternativa... uma casa com infra-estrutura melhor. Ele se prontificou a ajudar, mas ainda bem que falamos com ele junto com o Pierre. foi sério. Ele disse "Pierre, mas você concorda com isso? Porque temos que deixar as coisas bem claras aqui, é importante que eles saibam (Eric e eu) que você pensou muito neles quando procuramos um lugar para vocês ficarem". Tudo ficou bem esclarecido e com a simpatia de sempre ele vai nos ajudar. Mesmo assim a situação parece delicada pois estamos sendo muito bem acolhidos e ajudados tanto pelo Pierre e pela Anne quanto pelo pessoal da cour familiale, e agora pelo Youl. Mas todos parecem entender que é importante também nos sentirmos bem. Vamos ver...

O Youl nos contou um monte de histórias interessantes sobre ele e no Burkina Faso. A história do pai dele é incrível! Resumidamente, ele contou que em 1940 (+ ou -) o pai dele saiu de Dédougou para fazer uma longa viagem (buscando trabalho). Acabou chegando em Bobo-Dioulasso, que nessa época foi palco de conflitos entre o povo local e os colonizadores franceses. Como represália às manifestações dos negros, os colonos franceses determinaram um toque de recolher e matariam todos os homens entre 15 e 30 anos de idade que fossem encontrados na rua durante um certo numero de dias. Chegando na cidade o pai do Youl não sabia de nada e foi logo capturado e levado para uma "prisão" onde estavam muitos homens aguardando para serem executados. Enquanto isso, o rei de Ségur (vindo do Mali) chegou na cidade em busca de seu filho, que havia partido alguns dias e não tinha dado noticia desde então. O rei exigiu a libertação de seu filho e os guardas foram na prisão tentar localizá-lo. O fato é que o filho do rei tinha sido executado, e "coincidentemente" o pai do Youl tinha o mesmo nome do filho do rei, assim ele foi levado pelos guardas para encontrar o rei de Ségur. Mesmo reconhecendo não se tratar de seu filho, o rei disse as guardas que o pai do Youl era seu filho, salvando assim sua vida. E assim o pai do Youl passou a adotar o nome do rei: Colibaly.

Youl também nos contou a história da mãe dele e como ela conheceu o seu pai... peripécias dignas de filme!

sábado, 11 de julho de 2009

Chegando em Dédougou - 5° dia

Tínhamos passagem de ônibus comprada para Dédougou com saída prevista para às 8h da matina. Como tínhamos bastante bagagem e sabendo que o pessoal por aqui não é muito pontual, pedimos um táxi para às 7h. 7h... 7h10... 7h20... 7h30... e vimos que o cara não ia aparecer... e tivemos que ir atrás de um outro táxi. Já começamos o dia "aquecidos"!

Chegamos em cima da hora na rodoviária e um rapaz foi etiquetando as malas (escrevendo na fita crepe o numero das nossas passagens). Ele foi logo dizendo que teríamos que pagar excesso de bagagem: 4000 francos (cerca de 6 euros). "Pra quem?", "Pra mim mesmo" foi a resposta. Alguns minutos depois, com algumas malas dentro do ônibus, um senhor que parecia ser o patrão chega perguntando de quem eram todas aquelas malas! Eu disse que eram minhas e ele também disse que teríamos que pagar excesso de bagagem. Eu: " paguei pra ele ali..." Aí o negocio esquentou! O tal do rapaz pelo jeito tentou pegar o dinheiro pra ele, ele não tinha dado o recibo dos 4000 francos que recebeu (que nem sabíamos que era obrigatorio né?). Depois de uma discussão em língua local, eu com cara de bobo do lado, o patrão colocou o funcionário pra correr, literalmente no braço! Como se não bastasse sermos os únicos brancos do ônibus, nossas malas levaram a toda essa confusão... O ônibus estava cheio! é CHEIO! três de um lado, dois do outro, umas 12 fileiras... e no corredor, tamboretes pro pessoal em pé poder sentar. Ok, tudo devidamente abarrotado, com algumas bagagens, inclusive algumas das nossas, umas motos, bicicletas, geladeira, etc.. amarradas no teto do ônibus... enfim, saímos da rodoviária lá pelas 8h30. Uns quinze minutos depois ele pára em outro ponto de Ouaga para levar mais gente! Detalhe: antes dessa parada o bus estava cheio, inclusive o corredor. O mais surpreendente é que o povo entra no ônibus (com a passagem paga na mão), vê que não tem lugar, dá risada, põe a mala no primeiro espaço que encontra e senta em cima. Não vimos ninguém reclamando... deve ser normal! O esquema é comprar com antecedência, pois os lugares não são marcados mas os passageiros entram no ônibus por ordem de reserva. O engraçado também é que eles chamam os passageiros pelo nome!

No caminho para Dédougou? A pobreza no seu limite extremo, crianças trabalhando no campo e árvores lindas. Tivemos uma parada em Koudougou e comemos sanduíche de abacate com cebola e ovo cozido... acreditem: é gostoso!

Chegamos em Dédougou por volta das 14h e o Pierre estava com a Francine (nossa nova vizinha) nos esperando. E desce bagagem... baú, geladeira, bicicleta, etc... agrupadas as malas eu tive a ingenuidade de perguntar por um táxi. A resposta foi uma risada "aqui não tem disso não!" PS: mais tarde a Francine disse "em Ouaga sim tem táxi de verdade!" A solução: chamamos um cara pra levar nossa "mudança" num carrinho de mão. E de novo ficamos com cara de bobos, o cara era um armário e pagava as malas como se fossem travesseiros, inclusive o baú de ferro que sofremos pra carregar a dois! Ele puxou na mão o carro de mão por uns 3 Km num sol de 40°! Discutindo o preço ele ainda manda essa: "sobe todo mundo que eu levo por 2000!" (3 euros). Bem, não foi preciso pois foram nos buscar de moto! Ufa!

Chegando na cour familiale a Francine tinha preparado o uma espécie de angu branco com dois molhos (?)... foi a primeira vez que a Ju comeu com a mão! Caiu bem no frescor dos 40° depois da viagem tranquila! Fomos muito bem recebidos pela família e pela cadela (que se chama "Paciência"). Foi até difícil de retribuir o acolhimento e a alegria deles, pois quando chegamos nos demos conta (não totalmente surpresos) de que apesar de a casa ser nova, recentemente construída, não tem água corrente, nem banheiro e nem cozinha. Como se trata de uma cour familiale "tradicional" no terreno entre a nossa casa e a deles tem um cercadinho com uma fossa, que seria o banheiro e uma casinha (dessa vez com telhado) com uma espécie de fogão a lenha. Pelo momento ficamos por aqui porque esse assunto é delicado, decidimos procurar um outro lugar para ficar mas estamos sem graça de sair daqui depois de tão caloroso acolhimento e do bom clima com a família e com o Pierre que havia "escolhido" essa casa pra gente dividir.

Continuando nossa chegada, fomos comprar nosso colchão, mosqueteiro e ventilador - kit básico de sobrevivência! Fomos acompanhados pelo Pierre, pela Anne e também pela Francine e pelo SamSum (seu cunhado que também mora na cour). E ainda mais que em Ouaga (que é uma cidade maior e onde tem mais brancos) chamamos bastante atenção na rua! Todo mundo vem falar, cumprimentar e desejar boas-vindas! Os mais velhos vem mesmo falando na língua local e o povo se diverte com a gente tentando repetir o que eles dizem! Realmente impressionante! Com a ajuda dos "locais" foi tudo mais fácil de resolver e logo voltamos para casa com a "urgência" resolvida!

Bem... para fixar o mosqueteiro, perguntei para o Pierre como ele tinha feito e ele disse "na mão". Então pega gancho e gira, gira, gira...depois de meia hora os ganchos na parede com uma ajudinha do esparadrapo! Boa a parede!

Ah, apesar da pouca infra-estrutura temos mosaico no chão do banheiro!!! melhor, no chão do quadrado onde tomamos banho de balde! Para escoar a água eles fazem o piso como um funil, colam os azulejos e depois dão umas marteladas para forçá-los a aderir à forma curva do chão. Isto é... novo mas quebrado! Ai ai! O povo todo se vira em tudo!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Kdjorba - 4° dia

Entre outras cositas, fomos num concerto de Afro Rap no CCF. A Anne nos convidou e nos apresentou dois amigos franceses que estão trabalhando aqui: o Mathias e a Marion. A Anne trabalha nesse centro organizando os eventos culturais e ajudando os artistas da região. O grupo chama Kdjorba e nós gostamos do som deles, principalmente dos instrumentos africanos que não lembramos o nome. Foi legal! As letras das músicas falam de corrupção, violência doméstica, saúde, família, trabalho infantil e hipocrisia dos projetos de desenvolvimento... conhecemos esse quadro ? Infelizmente.

O trechinho abaixo é de uma música sobre o respeito com as crianças, deu nó na garganta!


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Burkina NTIC - 3° dia

Hoje foi um dia de muitas informações e contato com os burquinabeses!

O Pierre saiu cedo para Dédougou. De manhã veio em casa a moça que vem lavar a roupa deles com a sua bebê (8 meses) e a sua irmã mais nova (uns 13 anos). Quando a Justine (mãe) trocou a fralda da Francesca, percebi que ela tinha uma cordinha de palha na cintura, como se fosse um cinto. Justine explicou que essa corda é colocada nos bebês assim que eles nascem e eles usam durante todo o período que estão amamentando. Se entendi bem (porque às vezes é difícil entender o francês deles) o cordão é usado para que o ciclo menstrual da mãe volte ao normal e o seu organismo funcione bem enquanto ela amamenta sem perder muita força.

Fomos no CCF - Centro Cultural Francês - encontrar o Florent, o Will e o Richard para entregar os presentes que a Fany pediu (colega do trabalho do Eric que morou aqui 2 anos). Foi um papo muito legal e eles foram muito simpáticos com a gente, acho que vamos nos encontrar mais vezes quando estivermos aqui em Ouaga.

No final da tarde tivemos um encontro com o Professor Silvestre, ele trabalha na Universidade de Ouagadoudou e é o coordenador do Burkina-NTIC, um portal sobre o uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação em Agricultura, Meio Ambiente, Saúde, Educação, etc. Nos encontramos num posto de gasolina e ele nos levou para a sede de carro. Nos reunimos com ele e a Roukiahou, que deve ser a secretária dele. Foi um papo muito bom, ele deu importantes dicas para o Eric, falou um pouco de sua experiência e se colocou totalmente à disposição para ajudá-lo. Além de ser professor universitário, ele está muito bem informado sobre a realidade dos agricultores e recebe muitos pesquisadores de fora, isto é, uma pessoa que pode ajudar muito no trabalho que viemos fazer. Ele é muito simpático, acessível e sem vaidades. Eric estava um pouco tenso antes dessa reunião mas a conversa fluiu muito bem com ele. Nos sentimos tão à vontade que eu também aproveitei a ocasião para falar do meu trabalho e que gostaria de ajudar em alguma coisa. O retorno foi mais que positivo, ele me convidou para fazer oficinas com os professores sobre a minha experiência de uso das TIC e me convidou para participar da lista de discussão deles. Ele nos passou o contato de pessoas interessantes tanto para o trabalho do Eric quanto para o meu e nos apresentou para o professor que coordena os trabalhos sobre educação do portal. Enfim, fomos muito bem recebidos e sentimos que as portas realmente estão abertas para trocarmos experiências.

Foi um dia de muita informação e descoberta. Aprendemos um pouquinho mais cada vez que conversamos com alguém daqui, uma simples resposta nos um "sacode", acho que temos muito o que aprender com esse povo, mais do que eles poderiam conosco! As pessoas são muito simples e acessíveis.

Algumas do dia: o professor foi nos buscar no posto de gasolina com o carro dele, um carro antigo que estava sem o banco de trás. Ele disse que ia chamar alguém pra vir buscar o Eric e ele me levava de carro; falamos que não era necessário e ele deu um jeito para o Eric sentar. Mas, à noite, quando saímos da sede tinha um rapazinho colocando o banco no carro. Tenho pra mim que enquanto conversávamos com os outros professores ele providenciou o banco para nos deixar em casa e nos deixou bem na porta! Demais ?

No papo de volta pra casa ele nos explicou como funcionam os táxis aqui. Não tem outra forma para andarmos por aqui e não é fácil! Os motoristas perguntam para onde vamos, alguns dizem simplesmente que não vão nos levar e outros cobram muito caro e isso às vezes depende se pegam estrada de terra ou não. O Professor Silvetre nos explicou que para o serviço ficar mais barato, Ouaga foi dividida em eixos e que os táxis fazem caminhos específicos dentro desses eixos, como uma linha de ônibus. Por isso, eles vão parando até encher o carro, podem recusar de te levar e cobram preços diferentes... para nós brancos geralmente é mais caro, temos que negociar o tempo todo com eles.

Hoje, enquanto esperávamos um táxi demos uma caixa de chiclete para um garotinho, não tinham muitos mas ele ficou contente, abriu a caixa e mordeu um pedacinho! Umas crianças também vieram pedir para tirar fotos delas, felizes da vida!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Riz gras, Telecel e Albatroz - 2° dia

Também choveu bastante de manhã. Pierre e Anne saíram para trabalhar e nós ficamos dormindo, dormimos muuito bem com o barulho e o frescor da chuva! Saímos com a Anne e com o Pierre para almoçar perto de casa, num restaurante senegalês. O nosso primeiro prato foi o "riz gras", um prato à base de arroz (riz) e com molho de legumes e peixe. Não tivemos alternativa de pratos vegetarianos e então separamos o peixe. O restaurante é bem simples e a comida também.

Voltamos para casa, ajudamos a escoar um pouco a água da varanda, o sol estava voltando e em poucas horas tudo estava seco. A tarde saímos para resolver coisas práticas, Eric foi na garupa do Pierre e eu na da Annne, eles foram trabalhar e nós andamos pelo centro da cidade e compramos nosso chip de celular na operadora Telecel, nossos números são:

Ju: (00 XX 226) 78 71 30 24
Eric: (00 XX 226) 78 71 30 25

O povo na rua é bem simpático, as pessoas se cumprimentam, brincam e não tem como passar despercebidos. Nós somos os "nasaras" (os brancos), alguns gritam "bonjour nasara", outros "Sarkozy ou Obama?" ... enfim... nós 4 juntos então chamamos atenção!

A cidade tem mais infra-estrutura do que pensávamos. Tem bastante carros nas ruas, algumas são asfaltadas, tem hotéis, lojas, etc. até fomos na Oficina de Turismo! Vimos bastante meninos e rapazes com a camisa da seleção brasileira. Tem muita moto/mobilete na rua e as mulheres dirigem bastante por aqui!

Tem um menininho aqui que é nosso vizinho, ele fica no muro quando estamos em casa e de manhã e a tarde ele veio falar com a gente. Perguntamos o nome dele mas não nos entendemos muito, parece que ele não entende francês ainda e nós não entendemos o Mooré (língua local da região de Ouaga).

Andamos um bocado, mas não tiramos fotos, estamos "descansando" e ainda sentindo o clima. Passamos por exemplo por prédios administrativos/públicos (Assembléia Nacional, residência presidencial, etc) mas nós não pudemos tirar fotos, os guardas ficam em cima. Voltamos para casa de táxi, eles são verdes e bastante "usados", isto é, todos caindo aos cacos, "taxímetro" nem pensar! O cara levou a gente até o limite do asfalto e disse que para pegar as ruas de terra era mais caro ... andamos mais um pouquinho então! Sem contar que no meio da corrida ele parou para as pessoas que faziam sinal, para saber se elas queriam fazer o mesmo trajeto.

Depois que a Anne chegou em casa, à noite, fomos jantar no Albatroz! Um restô muito bonitinho, comemos no jardim e até tinha vela na mesa com direito a espanta mosquito e tudo. A descoberta foi o Aloco uma espécie de banana frita e arroz com abacaxi! Muito bom!!!

Bem! Boa noite!

terça-feira, 7 de julho de 2009

O cesto de Djerba - 1° dia

O cesto de Djerba é de palha e ele resume bem nossa saida de Paris! Quando o taxi chegou de manhã cedo para nos buscar o cesto ainda estava cheio de coisas que deveriam entrar nas malas, mas não cabia mais nada! Não deu tempo de procurar espaço e então fomos com ele cheio inclusive com o nosso café da manhã para o aeroporto! Chegamos com tempo e fomos pesar as malas e, como era de se esperar, elas estavam acima do peso permitido. Então compramos mais uma mala na hora e coube tudo!

A viagem foi tranquila, também, depois dos dias seguidos de correria so' deu para dormir quase o tempo todo! Tivemos uma parada em Niamey, capital de Niger, e chegamos em Ouagadougou por volta das 16h com 37° na sombra! Bem, ainda na fila da Policia um brasileiro escutou
a gente falando em Português, um senhor que trabalha na Embraer em Paris. Ele ficou meio espantado quando contamos que vamos ficar por 6 meses! Ele veio para reuniões e volta na quinta-feira. Foi engraçado, até em Burkina Faso encontramos brasileiros!

O Pierre (francês que esta' fazendo um trabalho para a Farm) ja' estava la' esperando a gente, ele foi muito legal! Na saida, apareceram de repente uns 5 caras oferecendo ajuda, vendendo chip de celular, brinquedinhos, pedindo dinheiro, a caneta, etc. Pegamos um taxi totalmente fora do padrão: mala na frente e atras e "vambora"! Para-brisa todo rachado, algumas emendas nos bancos e muita poeira! O Pierre foi na frente de moto. O trabalho dele é em Dédougou mas ele vem para Ouga por causa da Anne, sua namorida. Nos vamos ficar na casa deles aqui em Ouaga.

No trajeto do aeroporto para casa ja' deu pra sentir um pouco onde estamos, passamos por uma avenida grande e nela vende-se de tudo: fruta, milho, carne (sim, vimos uns homenes com pedaços de carne dentro de caixas de papelão), toalha de banho, etc. Vimos mulheres e crianças carrengando bacias na cabeça, cachorro, galinha, cabra, etc. Depois de deixar as malas nos sentamos um pouco na varanda para conversar. Pierre saiu porque tinha um compromisso com a Anne e nós ficamos dormindo. Acordamos com a chuva, mas é C H U V A, não chuva, chuva mesmo, chuvaaaaaa, pensamos que a casa ia desmontar com a ventania, ficamos um tempinho sem luz, mas ela vem e volta.

Pierre e Anne chegaram por volta das 21h ensopados e por causa da chuva decidimos comer em casa e depois de mais um papo fomos dormir bem cansados!

Dizem que se chove no dia em que chegamos é bom, traz boa sorte, quer dizer que estamos trazendo "coisa boa", agua, comida, frescor :)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Hora do embarque!

Pessoal,

No dia 7 de julho vamos embarcar para Burkina Faso!

Burkina Faso? Sim, Burkina Faso! "O país do homem íntegro"

Por quanto tempo? De julho a dezembro deste ano, 2009.

O que vamos fazer lá? Eric vai fazer o trabalho de campo da sua tese de doutorado. Ele quer saber como os agricultores utilizam as tecnologias, principalmente o telefone celular, para desenvolverem e venderem seus produtos (milho, sorgo, etc.). Para isso ele precisa se integrar nessa sociedade, tirar muitas fotos, filmar e fazer entrevistas. A Ju vai acompanhar e ajudar o Eric a desbravar este mundo, vai continuar com seus projetos a distância e muito em breve encontrará um projeto bem legal na área da Educação para fazer um voluntariado.

Onde vamos morar? Não vamos morar na capital -Ouagadougou, mas sim em Dédougou, que fica a 250 Km de Ouaga.

Faz calor? Sim! Vamos pegar o período das chuvas tropicais, deve ficar mais fresco!

Bem, por enquanto o que temos para contar é isso. Na medida em que as coisas forem acontecendo vamos anotando aqui, de preferência todo dia! E, então, se quiserem saber da gente visitem nosso diário!

Beijos nossos e obrigado a todos pelo carinho e votos de sucesso!