segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Festival de Máscaras em Nimina

Saindo de Koin passamos por Toma para pegar nossas malas, sem ter muita certeza de que poderíamos voltar para casa ainda hoje, porque não sabíamos que horas as máscaras iam sair, só sabíamos que era de manhã e no final da tarde. Mas deu tudo certo!

Esse festival de máscaras acontece uma vez por ano, um ano é ano da mulher e dura 4 dias e o ano seguinte, é ano do homem e dura 3 dias. O número 4 simboliza a mulher por causa dos pequenos e grandes lábios vaginais e o número 3 representa o homem, dois testículos e o pênis. 2009 é o ano da mulher, então o festival dura 4 dias. As máscaras são feitas pelos escultores e durante o festival elas ficam na casa dos “portadores”, ambos são pessoas que tem esses papéis sociais na família. As máscaras são seres da floresta, tem a máscara mãe e as dos animais (hiena, elefante, búfalo, crocodilo, gazela, calao, cobra, etc) e elas vêm da floresta para o vilarejo, onde todos estão em círculo esperando para assistir a dança. Essa festa é então puramente animista, e embora muitos hoje sejam muçulmanos, protestantes ou católicos todos participam e se envolvem.

Chegamos então por volta das 16h30 em Nimina. Fidèle e Marília numa moto e nós dois na nossa. O vilarejo fica meio afastado e quando chegamos e paramos a moto, TODAS as crianças que estavam já em roda aguardando as máscaras chegarem, junto com o restante do povo, nos cercaram. Fomos então levados pelo Fidèle para conhecer o “chefe do vilarejo” e o “chefe dos costumes” sentados num tapete do outro lado da rua, separados do povo. Eles assistem à festa desse local, ficam ali sentados durante os 4 dias. Sentamos junto com eles e nos serviram o “dolô das máscaras”, feito especialmente para o festival.

Não esperamos muito e começou a correria, eram as máscaras chegando. Todos se organizaram em círculo para recebê-las. Elas vêm em fila e se sentam. Os músicos começam a cantar e o povo a bater palma, a primeira música é para a máscara mãe, para invocar os ancestrais. As máscaras respondem à invocação da música e vêm dançar. Depois da máscara mãe dançou o búfalo e depois a hiena. Essa primeira roda é rápida, é algo que vem aos poucos. São dias de preparação e depois de concentração até que todas elas se reúnem (podem chegar a 20). Depois de dançarem elas vão em direção ao monumento das máscaras que fica do outro lado da rua (do mesmo lado em que ficam os chefes), nesse momento as crianças saem correndo, desaparecem. As máscaras dançam ao redor do monumento e se despedem. Nessa última parte só participam as pessoas que organizam a festa, os ajudantes das máscaras e os músicos.

Foi rápido assim, mas é intenso. É uma energia boa e mística no ar...

Já estava anoitecendo quando acabou e mesmo não gostando muito da ideia de pegar a estrada, foi melhor ir para Dédougou do que voltar para Toma. A Marília então foi conosco para conhecer nosso canto, com a sua moto. Fidèle foi com o Eric e eu de carona no carro do Alphonse, que passou também para ver o festival. Sua mãe, Dona Josephine, é desse vilarejo e estava lá.

A viagem foi tranquila, só que o pneu do carro furou quase chegando em Dédougou. O Alphonse telefonou pedindo ajuda, mas Eric, Fidèle e Marília vinham atrás de moto e Eric e Fidèle entraram no vilarejo e pediram ajuda (por sorte paramos bem em frente de um) ... perdemos uns 40 min nessa mas chegamos todos bem, imundos, contentes e muito cansados!

Colocamos também um vídeo e fotos mostrando um pouco da festa!

Toma e Koin - uma missão

Como não podemos perder oportunidades, resolvemos esticar o final de semana e viajar para Toma. Nosso amigo Fidèle nos convidou para assistirmos o festival de máscaras de Nimina, que começaria na semana passada e foi adiado para este final de semana. Como Nimina é um pequeno vilarejo e fica muito perto de Toma (15 Km) nos hospedamos lá e convidamos a Marília pra ir com a gente. Mas dessa vez, aproveitando também que estaríamos por lá, fomos visitar um curandeiro, Jean Pierre, amigo do Fidéle, que mora em Koin (8 Km de Toma).

O plano era chegar na hora do almoço e visitá-lo à tarde e na segunda-feira ir para Nimina assistir o segundo dia de saídas das máscaras (que segundo dizem é o melhor dia) e de lá voltar para Dédougou; chegaríamos no início da tarde.

Fomos de ônibus de Ouaga para Toma, batizando a Marília nessa aventura. A viagem foi tranquila, triste foi que quase chegando, perto de um vilarejo, vimos uma criança sendo socorrida na beira da estrada, provavelmente morta atropelada.

Chegando em Toma nos damos conta, mais uma vez, que por aqui não adianta muito planejar o seu dia. Fidèle não estava, tinha ido num outro vilarejo para um funeral, mas seu filho Bernard nos acompanhou e depois de almoçar passeamos um pouco pela cidade. Dessa vez ficamos num hotel porque no dia anterior, sábado dia 28, teve o funeral anual, uma grande festa que reune os familiares daqueles que faleceram neste ano e a casa da família Ki-Zerbo, onde ficamos da outra vez, estava cheia. O Fidèle chegou no final da tarde, meio alegre de dolô, e fomos com a Marília na casa dessa mesma família (Ki-Zerbo) para tomar o dolô da Dona Josephine. Dessa vez estava conosco seu filho Alphonse, padre, que nos acolheu na sua casa na última vez.

Segunda-feira então retomamos o plano. Fomos cedo para a casa do Jean Pierre em Koin, que nos acolheu gentilmente e mandou preparar um frango pra gente. Bem, isso demorou, também tinham outras pessoas lá para serem atendidas. Ele trata as doenças com plantas medicinais e, por se tratar de um líder animista, não é só o aspecto físico que ele “vê”. Fomos primeiro nós dois e depois a Marília, sempre com o Fidèle traduzindo a conversa. Ele nos atende numa casinha cheia de fetiches e a conversa é bem tranquila, sentimos uma energia boa e a experiência foi legal... inesquecível. Depois que ele nos atendeu, almoçamos o de sorgô vermelho, molho de baobá e o frango que ele mandou preparar. Fomos embora, os três, com algumas missões para cumprir!