quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ramadan

Estamos aqui no perido do Ramadan, periodo em que os muçulmanos fazem jejum. O jejum é feito durante o dia, isto é, enquanto ha' luz do sol. Eles podem comer a partir do pôr-do-sol até o amanhecer. Isso dura mais ou menos um mês, melhor, durante o 9° mês do ano lunar. O ultimo dia do jejum é também chamado de Ramadan (Aïd-El-Fitr ou Aïd-el-Seghir = 1° dia do 10° mês do calendario muçulmano) uma das principais festas dos muçulmanos.

O "engraçado" foi que esses dias recebemos a seguinte mensagem da nossa operadora de celular (Telecel):

"Especial Ramadan! De 24 de agosto a 20 de setembro, 
faça ligações Telecel com a tarifa especial de 75 FCFA o minuto, das 17h às 6h. 
Bom mês de jejum!"

domingo, 23 de agosto de 2009

Passagem por Ouaga e a Marilú

No domingo de manhã bem cedo então pegamos o ônibus para Ouaga. Depois do carregamento habitual - sobe galinha, sobe saco, sobe nossa moto - entramos no ônibus e logo de cara uma informação meio duvidosa... o motorista nos disse que a viagem duraria cerca de 2 horas e meia... hummm... achamos difícil de acreditar, sobretudo sabendo que apesar da distância total de 190km, uns 80km eram em estrada de terra... pegamos a estrada então já eram quase 7h da manhã. Sacode daqui sacode de lá, uma hora, duas horas, e depois das tais duas horas e meia tínhamos chegado, em Yako, a 110 km de Ouaga!!!! mas pelo menos o resto da viagem seria em estrada de asfalto! Com as diversas paradas do ônibus, acabamos chegando em Ouaga por volta do meio dia e meia! mas chegamos bem! Desce saco, desce galinha, desce bode-que-subiu-no-meio-do-caminho, e desce também nossa moto! Foi muito bom não ter que pegar táxi pra ir pra casa do Pierre! mas o trânsito, mesmo no domingo já se mostrava bem agitado! A tarde choveu bastante! e então ficamos todos em casa na companhia das meninas do Mali que ainda estavam por aqui.

Os dois dias que passamos em Ouaga ficamos correndo de um lado para o outro na cidade a procura de coisas que não encontramos aqui em Dédougou: capacete, sinta de segurança (para diminuir o impacto sobre a coluna quando das viagens de moto pelas estradas de terra cheias de buracos), mapas da região, e outras coisitas mais (chocolate pra Dona Juliana, colher de pau, pregador, etc...). Entre as compras tivemos dois encontros interessantes: um com o professor Sylvestre Ouedraogo, com quem já havíamos discutido na nossa primeira passagem por Ouaga em julho, e outro com Benjamin Sia, professor também da Universidade de Ouaga com quem visitamos rapidamente o centro de educação a distância da universidade.

Entramos em contato por email com a Iara, uma petropolitana que faz missões evangélicas aqui em Burkina. Foi um contato da prima da Ju, a Vitória, mas não sabíamos onde exatamente ela estava por aqui. Aproveitamos nossa passagem pela capital e acertamos! Iara nos telefonou no mesmo dia e nos encontramos para comer uma pizza! Isso mesmo! Comemos pizza de 4 queijos num restaurante para "tubabus"!!!

Decidimos voltar de ônibus por causa das chuvas, o estado da estrada (no trecho de terra) devia estar difícil então preferimos não arriscar... a travessia de moto vai ficar pra próxima! A viagem de volta foi bemmmm longa! 6 horas e meia! realmente o trecho de terra não estava nada bom... chegamos bem, bem cansados!

Chegando em casa uma surpresa! Temos uma galinha! Pierre ganhou uma galinha de presente de um dos agricultores que ele entrevistou nessa semana! Cantamos para o Pierre a musiquinha "eu tinha uma galinha que se chamava Marilú..." ele gostou da sugestão e então estamos cuidando da Marilú. Esses dias ela fugiu e foi uma correria só pegar ela de volta! Ela ainda está estressada da viagem (veio de ponta cabeça no guidão da moto, como fazem sempre por aqui).

No mais... 4 dos nossos amigos portugueses foram embora! Mas o Bruno e a Miriam ainda ficam mais duas semanas e até lá vamos conhecer pessoalmente as atividades que eles fazem aqui com as irmãs.

domingo, 16 de agosto de 2009

Toma!

Adoramos conhecer Toma, valeu a pena ter ido pela festa! Mas infelizmente o final não foi muito feliz...

Saímos de Dédougou dia 14, de "ônibus", junto com o Fidèle e a Benedicte, uma de suas netas. A viagem foi longa, 90 KM em 3h30 aproximadamente, não pegamos chuva mas a estrada não é muito boa. O micro-ônibus veio superlotado, nós viajamos com a nossa moto no bagageiro, e aqui isso quer dizer "amarrado em cima do ônibus". é divertido ver o povo chegando com as coisas que vão no ônibus: planta, galinha, saco de comida, bicicleta, cabra, bode, moto... e assistir o malabarismo dos caras colocando a "bagagem" pra cima! Quando fomos abastecer, encontramos um micro-ônibus igual ao nosso que tinha simplesmente um boi em cima (entre outras cositas)! Queríamos muito ter visto a cena do pessoal colocando o animalzinho de grande porte pra cima!!!

Eric e eu fomos colocados na frente, junto com o motorista, assim fomos vendo a paisagem e acompanhando melhor as paradas. Passamos por várias cidades: Soakui, Aperekui, Massala, atravessamos o rio Mouhoun, Douroula, Dumbassa, Soroni, Zaba, Gassan, Kibiri, Kougny, Tiouma, Goin, Tô e finalmente Toma. No meio do caminho vimos os animais que já estamos "habituados", esquilos e dois tipos de pássaros lindos: um grande e bem azul e outro tamanho médio de cor verde-clara, parece com a nossa maritaca. Também vimos umas árvores lindas, totalmente secas em meio à paisagem bastante arborizada e às vezes no meio dos campos de milho. O Fidèle nos explicou que essa árvore fica seca durante a época de chuva e cheia de folhas na época da seca, isto é, bem diferente do resto da paisagem e "temperamental"! Bonito de se ver!!

Quando paramos em Goin, o Fidèle veio com uma pequena cabaça de "dolô"... a cerveja artesanal daqui, ela é tão boa que vamos escrever uma mensagem em seguida só pra ela, explicando mais detalhes! Merece!

Quando chegamos em Toma um dos sobrinhos do Fidèle veio nos buscar, como estávamos de moto tudo ficou mais prático. Primeiro passamos na casa da família do Fidèle pra ele deixar as coisas dele. Nossa surpresa foi que na "cour" deles está enterrado o pai dele, o pai da família Toe. Perguntamos se era tradicional, mas eles nos explicaram que não, que foi uma escolha da família tê-lo por perto. Bem, dali o Fidèle nos levou para a casa onde fomos hospedados... e ai a historia começa e entendemos melhor porque em Toma a festa do dia 15 de agosto é mais comemorada.

Era uma vez... Alfred Simon Ki-Zerbo, vendido como escravo ainda quando criança. Na juventude ele conseguiu fugir e recebeu ajuda dos missionários católicos, isso por volta de 1920. Anos mais tarde ele e os padres franceses fundaram a Igreja Católica em Burkina Faso e então ele é considerado o primeiro catequista do país. Sua história de vida é tal que atualmente está em processo de canonização no Vaticano. Ele já era velhinho quando visitou o Papa Pio XII no Vaticano e esse cedeu o seu trono papal para ele se sentar (linda foto!) e, quase aos 100 anos de idade, em 2006, ele faleceu durante a missa do Papa João Paulo II em Ouagadougou.

Acontece que Alfred é de Toma e a família Ki-Zerbo é uma das mais tradicionais da cidade. Fidèle nos hospedou na casa de um de seus filhos, o Senhor Saturnie Ki-Zerbo que já é bastante velhinho! Um dos filhos do senhor Saturnie, Alphonse, é padre e está na França agora. A família do Fidèle (Toe) e a família Ki-Zerbo são bastante unidas, achamos que Fidèle nos hospedou lá porque eles têm construído dois quartos que compartem um WC interno e lugar para se banhar. Mesmo sem água corrente, o banheiro no interior já é uma boa diferença para nós ocidentais, né? E fidèle sem ter nos perguntado foi atencioso nesse sentido. Fomos muito bem recebidos pelo Sr. Saturnie e a Senhora sua esposa, Josephine... por perto muitos filhos, netos, sobrinhos, primos... conhecemos tanta gente nesses dois dias em Toma que nem podemos contar o nome e dizer quem é quem!

O que foi bem legal também é que a Dona Josephine faz o dolô em casa! E assim que chegamos eles mostraram pra gente cada etapa de preparação da bebida: a espiga do sorgô, os grãos germinando, o "granier" (onde guardam as sementes), os grandes jarros de barro cozinhando o dolô, o dolô fermentando e ... o dolô!

Saindo de casa, fizemos um tour turistico-cultural-espiritual com o Fidèle! Primeiro ele nos levou no Centro Marial, uma espécie de centro de estudo para retiros espirituais. Eles têm um pequeno jardim com estátuas da aparição de Maria em Fátima, alojamentos para peregrinos, uns 15 santuários dedicados às aparições reconhecidas de Maria, uma biblioteca, etc. Diversas estátuas e pinturas feitas por artistas da região.

Perto dali fomos ver a gruta, um local no alto de Toma (com uma vista bonita da cidade) onde construíram uma pequena gruta para colocar a primeira estátua de Maria de Burkina Faso. A história diz que essa estátua tem mais de cem anos, foi trazida por escravos e missionários desde o Mali e no trajeto quase foi destruída nos diversos ataques que sofreu. Descendo a gruta conhecemos a Paroquia do Sagrado Coração, a Catedral, ela é bem grande!! E, descendo a rua principal da Catedral, fomos visitar mais uma casa dos Ki-Zerbo, onde vive Jean Baptiste com sua família. Ele é o filho de Dom Alfred (irmão do Senhor Saturnie que nos acolheu). Nesta cour eles construíram uma espécie de uma cripta, onde está o túmulo de Dii Alfred Simon Ki-Zerbo, eles recebem bastante visitas de devotos e peregrinos.

Terminando o passeio, fomos tomar o dolô da Regine, uma prima do Fidèle. Sentamos no quintal e vieram as cabaças! Dessa vez veio o acompanhamento também: uma porçãozinha de carne! Bem... nos olhamos disfarçadamente quando o Fidèle solta "tomamos o dolô comendo carne!". Ele esqueceu que não comíamos carne, ficamos sem saída e pegamos um pedacinho. Nesse meio tempo, ouvimos o som de um tambor e uma voz forte. Fidèle avisa "corram pra ver! Eric, você precisa conhecer a forma mais tradicional de comunicação aqui!" Saímos na porta e vimos o "crieur public" (gritador público, estranho em Português)! Trata-se de uma função bem específica: passar em toda a cidade para dar notícias. O crieur chama a atenção do público tocando o "doundoum" (espécie de tambor) e conta a novidade num tom bem forte! Pra variar, era alguém da família do Fidèle e pudemos conversar um pouquinho. Como em algumas cidades não tem uma radio local, o crieur public ainda é muito ativo e requisitado para levar as notícias para o povo!

Encerramos o dia bem cansados! Fomos ainda jantar: inhame cozido e sopa de peixe! Bem, Eric fugiu da sopa, eu não... e ela não caiu nada bem mas já passou!

No dia 15 acordamos cedo para ir à missa (início: 7h30!!)... foi uma celebração muito bonita, preparada pelas mulheres. Todo mundo contente! Músicas animadas e muitos tambores! O mais bonito foi o que pra gente é a hora da oferta e o canto final de Ação de Graças! Na oferta as mulheres entraram com grandes cestos coloridos de palha, tradicionais, alguns com milho e arroz, por exemplo. O canto final foi puxado por um cantor conhecido por eles e as mulheres dançaram e cantaram em coro no ritmo dos instrumentos tradicionais (Dagarghil, Djembé, Lounga e Doundoum)! Saímos todos em procissão, nesse ritmo, até a gruta, onde o padre terminou a missa.

Descemos para a cidade para ver um torneio de ciclismo. Paramos aqui e ali e numa dessas o Fidèle nos avisa que não estava se sentindo bem, pediu desculpas e pediu ao Eric para levar ele pra casa. Ficamos sem saber o que fazer depois, pois o combinado era almoçar em família e sem ele ficamos meio perdidos. Bem, voltamos para casa para descansar (estava muuuito quente). Por volta das 13h uma das meninas da família traz o almoço pra gente, comemos sozinhos, mas fomos bem servidos: arroz, molho de legumes com carne e numa terceira panela frango cozido! E o dolô para acompanhar é claro! Comemos um pouco do molho e eu um pedacinho de frango (com fome!). O engraçado foi que ficamos sem graça de devolver as panelas ainda cheias e... aproveitando que não havia ninguém por perto... demos um pedaço grande para o cachorro que estava bem ali do nosso lado! Pode parecer feio, mas ficamos pensando que diminuir um pouco o volume dando um pedaço para o cachorro era melhor do que fazer desfeita!

Um tempo depois o Fidèle nos chama, ele queria que fossemos assistir a final da "Copa dos Deputados", que estava dentro da programação do dia. Ele fez questão de ir com a gente mas sabíamos que ele não estava bem. O filho dele também foi e falamos com ele antes que era melhor o Fidèle ficar, mas ele respondeu dando a entender que o "velho é teimoso". Fomos então para o Estadio de Lutas Tradicionais que tem também um campo de futebol, mas como já ensinamos pra vocês: bem mais ou menos (uns 5% de grama e o resto de pedregulho). Antes do jogo começar assistimos a algumas apresentações de danças tradicionais e também presenciamos a chegada triunfal das autoridades nos carrões.

Em meados do primeiro tempo notamos que o Fidèle não estava bem e o Eric levou ele de volta para casa. Também desistimos de assistir o final do jogo para pegarmos um pôr-do-sol lá da gruta. No caminho, em frente à Catedral, encontramos m grupo muito animado de mulheres dançando!!! Os homens tocando e a criançada no meio!! Elas dançam em círculos, muito animadas e suando à bica no calor! O interessante é que tem mulheres de todas as idades e muitas são idosas. Enquanto comíamos um milho na brasa, sai a Josephine da roda e vai buscar pra gente mais uma caneca de dolô! Desceu muito bem! Depois dessa recarga, entramos na roda! Foi gostoso, a mulherada adorou ver o Eric dançando e pulando na roda pois quase não tem homens dançando! E as crianças riam muito pra gente!!!

Mesmo assim passamos de volta na gruta para curtir o final de tarde! Passamos novamente no Fidèle para saber como ele estava. Nada bem! Ficamos tristes e preocupados de vê-lo assim, ele estava saindo para ir ao hospital fazer exames, pois havia forte suspeita de ser uma crise de malária. Aqui estamos no período das chuvas e os mosquitos são mais numerosos. Sabíamos que nessa época tem muita ocorrência da malária, mas não sabíamos que era tão frequente, praticamente todos os dias sabemos de mais alguém com crise. Mas não se preocupem! Estamos tomando o medicamento indicado e tomando bastante cuidado, usando repelentes e dormindo somente com o mosquiteiro bem fechado!

A noite, ainda ficamos conversando com a família Ki-Zerbo durante o jantar: tô e mais dolô! Eric e Charles Ki-Zerbo (um dos filhos do Saturnie que é da área médica) foram até o hospital ter notícias do Fidèle, mas ele já tinha voltado para casa.

Acordamos bem cedo, pois o ônibus para Ouagadougou estava marcado para às 6h30! Saímos às 6h de casa e todos já estavam de pé e as meninas já estavam trabalhando, colocando o resto do dolô para secar (serve de comida para os porcos). Nos despedimos da família e passamos na casa do Fidèle, ele parecia melhor mas ainda muito abatido, tinha passado uma noite difícil! O planejado era que ficaríamos mesmo até hoje de manhã em Toma, mas ficamos na duvida se partíamos com ele nesse estado, mas achamos melhor manter o plano, ele ficaria mais tranquilo descansando. Enquanto estávamos lá, éramos suas visitas e ele estava preocupado com a gente. Mas passamos muito bem, ficamos sozinhos por muito pouco tempo e os amigos e familiares estavam por perto nos dando atenção e preocupados com ele.

Dolô

tínhamos ouvido falar no dolô mas não tínhamos experimentado até ir para Toma! Tivemos a chance de ficar hospedados na casa da Dona Josephine que prepara um delicioso dolô muuuitos anos. Ela nos explicou e nos fez experimentar todas as etapas do dolô! Vimos onde e como é feita cada uma delas!

O dolô é uma cerveja à base de sorgô, uma bebida bastante tradicional aqui, principalmente nos vilarejos. As receitas variam de acordo com a etnia, mas em todos os casos é um processo que dura vários dias, em geral, 3 dias.

Esse é o "granier" onde o sorgô fica armazenado. Por aqui, principalmente no interior, todas as "cours" têm um, às vezes até mais de um, onde ficam armazenados os grãos que eles produzem e vão consumindo.

A primeira etapa é espalhar o sorgô e deixá-lo germinar, molhando-o de vez em quando. Depois secam e moem. Acrescentam água nessa farinha para "inchar" o sorgô e vão remexendo de vez em quando num período de algumas horas.

Essa mistura fica secando num "canari" (jarro) e depois eles colocam essa mistura para ferver. O tempo de cozimento depende da receita, mas o dolô fica cozinhando de 8 à 10 horas.


Antes de fazer a fermentação do dolô, numa primeira etapa, eles fazem o "petit dolô", uma bebida bem concrentrada e doce, geralmente separada para as crianças e as grávidas.

Eric e Fidèle experimentando o "petit dolô"

Depois é acrescentado a levedura para fazer a fermentação, o jarro fica tampado e o dolô fica esfriando durante horas. Nessa etapa a bebida é fermentada, mas menos forte.

No dia seguinte de manhã, está perfeito! Mas geralmente não se conserva o dolô, ele é consumido logo no mesmo dia em que ficou pronto e é servido sempre nas cabaças. Eles tomam o dolô principalmente nos dias de festa.

Em geral são as mulhres que preparam e vendem. Atualmente tem os bares como conhecemos, eles aqui chamam de "maquis" mas tradicionalmente o dolô é vendido nos "cabarés", que são vendas mais "escondidas" e para conhecedores.

Essa é a "cour" da Dona Josephine, onde ela prepara o dolô.

E essa é a Dona Josephine!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Episódios da semana

Olá pessoal, estamos um pouco atrasados com as novidades! Mas é porque também a semana passou muito rápido.

Como havíamos comentado da ultima vez, o Pierre se decidiu vir morar com a gente e no final de semana recebemos a visita da Anne e de duas irmãs da familia com quem o Pierre morou no Mali (Aminata e Haoua). No sabado mesmo fomos todos convidados para ir ao aniversário do Samson (marido da Francine). Quando chegamos lá vimos que só tinha homens na festa, e a Francine correndo de um canto para o outro para servi-los. Parece que as esposas (a maioria dos homens era casado) não participam das festas dos amigos do marido. Fomos recebidos muitttoo bem! com direito a um banquete! A Francine preparou até crepe! :-) e tinha também um peixe na brasa so para os branquelos.

Tivemos uma rodada de apresentações. Um caso interessante durante a festa foi que um dos convidados veio falar conosco a respeito das novelas brasileiras! Foi difícil entender o que ele dizia, pois falava mais ou menos francês... o que entendemos foi que ele fez questão de vir falar com os brasileiros para dizer que as novelas têm uma influência negativa sobre as mulheres burkinabesas. Ele disse, por exemplo, que quando as mulheres daqui vêem as novelas elas passam a exigir mais coisas de seus maridos, e isso acaba gerando conflitos na familia! ficamos nos perguntando até que ponto a Globo e companhia considera questões culturais ao exportar as novelas para países onde o contexto cultural é bem diferente! Por outro lado também nos perguntamos até que ponto eles aqui sabem discernir entre o que é retratado nas novelas é o que realidade...

Bom no final da festa fomos quase todos dançar no Robinet (que quer dizer literalmente torneira! onde a cerveja rola solta!), uma espécie de danceteria de Dédougou. Foi divertido, e suamos muito dançando! Como é a noitada mais famosa da cidade, encontramos quase todos os nossos conhecidos.... :-)

Passamos praticamente todo o domingo na varanda! as irmãs malianas prepararam um prato típico (arroz com molho de cebola, repolho e mostarda) e os portugueses vieram almoçar conosco! Mais tarde Fidèle, nosso amigo sábio africano, passou em casa e encontrou todos nos na varanda reunidos. Mais uma vez a conversa foi densa! ele la sentado na cadeira e dez jovens sentados no chão conversando com ele sobre diversas coisas. Continuando as discussões sobre a morte, ele nos deu detalhes interessantes da maneira tradicional de enterrar as pessoas por aqui. Todos são deitados de lado na cova, os homens sobre seu lado direito, com o rosto virado para o leste, as mulheres sobre seu lado esquerdo, com o rosto virado para oeste. Explicando: tradicionalmente os homens carregavam seus arcos de caça no ombro esquerdo, então esse lado do corpo do defunto é deixado pra cima, "livre", no caso dele precisar se defender (simbolicamente, né!) e ele fica com o rosto virado para leste, do lado que o Sol nasce, para que ele saiba todos os dias a hora do nascer do sol e possa se lembrar do trabalho no campo. A mulher, ao contrario, usa seu braço direito para comandar a maquina de fiar tradicional, e fica com o rosto virado na direção do por do Sol para se lembrar de começar a preparar o jantar e receber seu marido que chega do campo.

Mudando de assunto, o ponto polêmico da conversa foi quando a Inês, uma das portuguesas, perguntou como eles (africanos) viam a homossexualidade. Primeiramente Fidèle desconversou, reforçando os diferentes papeis do homem e da mulher. A Inês insistiu um pouco pois achou que ele não estava entendendo o que ela queria dizer. A reação dele foi forte: "isso é coisa que vocês brancos inventaram, aqui não existe isso". Sentimos que esse assunto ainda é muito tabu por aqui. Inês ainda argumentou algumas coisas e Fidèle deu exemplos para dizer que embora respeite as escolhas de cada um, na sua opinião o homossexualismo não faz sentido para o africano, não existe. Bem... o assunto durou, e nós constatamos que tem coisas que não se discute e ponto.

Fora esses episódios, passamos a semana envolvidos com as nossas tarefas, estudando o Dioula e recebendo de tempos em tempos (quase todos os dias!) algumas visitas. Até que as crianças da redondeza se acalmaram um pouco! E como é a época de chuva, tem chovido quase todos os dias mas o calor continua!

Amanhã vamos viajar! O Fidèle nos convidou para passarmos o feriado do dia 15 de agosto (Ascensão de Nossa Senhora) na sua cidade, Toma. Aqui é feriado nacional e um dia de festa para os católicos e parece que em Toma eles festejam bastante! Aqui é frequente encontrarmos tecidos tradicionais com motivos religiosos, as pessoas compram esses tecidos e mandam fazer roupas. A Pierrete, uma animadora do Vacances Loisirs, nos contou que um mês antes da festa os tecidos chegam para o povo ter tempo de mandar fazer as roupas. E então, na festa do dia 15 estão todos com roupas novas com estampas homenageando Maria e Jesus.

Ficaremos na cidade até domingo e de là seguiremos para Ouagadougou. Vamos resolver coisas de ordem prática e fazer reuniões de trabalho. Enviaremos noticias :)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um mês depois...

Começamos a sentir que o tempo aqui também passa rápido! Aconteceram tantas coisas nesse primeiro mês que poderíamos voltar para casa com a mala cheia de histórias pra contar, algumas tristes, outras alegres e divertidas mas todas com muito significado!

Temos novidades pra contar desde a última vez que passamos por aqui!

Estamos cada vez mais "domesticando" nosso espaço, ontem e hoje vieram trocar as telhas que estavam "furadas" e colocar mosquiteiros nas janelas e portas! Além disso, o Pierre vem morar com a gente! Nos damos muito bem com ele, é alguém com quem temos conversado bastante. Isso vai ser bom, vamos dividir alguns gastos, ocupar alguns espaços vazios na casa, ter mais movimento por aqui! E, nossa colmeia em Paris está em vias de ser alugada por um brasileiro até a nossa volta! Essa foi uma excelente noticia pois assim não vamos perder o aluguel de ! Aproveitamos para agradecer mais uma vez a amiga Paola que nos ajudou nesse processo levando os interessados para conhecer o nosso cantinho!

Bem, as visitas por aqui continuam. Hoje, por exemplo, tivemos a visita do nosso amigo Fidèle Toe, lembram dele? Nós cruzamos com ele na rua, juntamente com o Pierre, antes de ir almoçar. Ele almoçou com a gente e depois nos acompanhou até em casa, ele queria se assegurar que estamos bem e ver se tinha conhecidos no nosso bairro. Eis que duas casas depois da nossa mora ninguém menos do que uma das suas filhas, Odete. Ficamos todos surpresos e contentes! Em casa...

A conversa com o Fidèle é carregada de muita informação e ensinamento. Gostamos muito de duas frases dele hoje:

"O desenvolvimento não é uma questão de recursos,
mas uma questão de vontade!"


"Sempre haverão soluções até o dia em que paramos de respirar!"


No domingo passado nós fomos numa igreja assistir um culto. Não lembramos o nome da igreja, mas é protestante, quem nos convidou foi a Sylvie. A celebração dura cerca de 2 horas e é feita em Francês e em Dioula com tradução simultânea! Um lado para as mulheres, outro para os homens e um canto para as crianças. Nos sentamos em bancos também. Chegam todos com os trajes africanos e muito bem arrumados. Dançam e cantam bastante, ao ritmo dos tambores! Teve um momento em que pediram para aqueles que iam a primeira vez se apresentarem, nós éramos os únicos brancos presentes e todos prestaram atenção na gente, algumas pessoas vieram nos cumprimentar no final da missa. Também nos chamou atenção (além das músicas e danças) que no momento de rezar, cada um faz a sua oração (ou se tem uma em comum não deu para entender) em voz baixa, isto é, fica um murmurinho no salão.

Também nessa semana Eric encontrou portugueses no mercado. Ouvir o português chamou atenção! Ontem nós encontramos o grupo: são 6 jovens que estão aqui como voluntários na Congregação da Madre Tereza de Calcutá. A Madre Superiora é tia de dois do grupo. Ficamos bastante surpresos com o trabalho que eles fazem, o que vimos por ai não é ainda o limite, eles atendem os pobres dos pobres em circunstâncias muito difíceis, muito mesmo! Eles recebem pessoas que estão muito doentes e não têm condições de se cuidarem, elas ficam hospedadas . Além disso, eles recebem pessoas para fazer curativos e dar medicamentos, além de orientações gerais. Isso sim é a realidade mais dura, aquela que ninguém quer ver! As pessoas chegam em condições sub-humanas, sub-nutridas, com feridas e infecções muito graves. Mas... ainda bem que tem gente se doando para ajudar quem precisa! Vamos ver se fazemos uma visita um dia desses, temos que nos preparar antes!

(Se Deus quiser, até a proxima!)

sábado, 1 de agosto de 2009

Vacances Loisirs

Hoje foi o encerramento de um projeto de que participamos aqui em Dédougou. Vacances Loisirs (Férias Lazer) é o nome da colônia de férias organizada pela Associação Solidariedade Arte e Cultura. O Senhor Ganou (Diretor Regional de Educação - DREBA) me apresentou para o Armand, que coordena essa atividade (sem medir esforços) e desde a primeira conversa as portas ficaram abertas!

A colônia de férias não é gratuita, mas o preço que as famílias pagam é simbólico, cobre os lanches das crianças e alguns materiais. Todos os organizadores e animadores trabalham como voluntários. Esse ano foi a terceira edição e tiveram 40 crianças inscritas entre 9 e 14 anos. Foram duas semanas de atividades: música, teatro, dança, palestras, esportes, informática, jogos tradicionais...

As crianças visitaram o governador da região, a direção de ensino e a prefeitura... com visita guiada e tudo! Elas faziam pequenas apresentações e perguntas (previamente combinadas) para as autoridades. Interessante! O que me chamou atenção foi a certa facilidade de levar um grupo de crianças (em colônia de férias) para visitar o governador, o prefeito, etc com hora marcada. São pessoas de fácil acesso realmente. Armand pediu minha ajuda para tirar fotos para eles terem alguns registros e poderem divulgar mais o projeto. Com isso eu tive a oportunidade de conhecer os espaços públicos também!

Eu conheci o grupo na segunda semana da colônia e fui muito bem recebida por todos desde o início. O mínimo que fazemos é bastante para eles e isso me fez muito bem que esse início é muito difícil pra gente. Conheci um rapaz francês (Emilien) que está por pouco tempo aqui fazendo um estágio na rádio da cidade. Ele conheceu o projeto no ano passado e tem ajudado desde então. Ele se ofereceu para ajudar nas atividades de informática com as crianças e quem "empresta" os computadores é o CLAC (Centro de Leitura, Arte e Cultura). Eu apareci justamente na semana em que o Emilien teria que viajar e assim as crianças tiveram mais duas aulas de informática comigo. (Matei saudade!) Apesar do pouco contato que eles têm (a maioria somente nesta ocasião), eles dominam rapidamente o "brinquedo" e até que avançaram no tempo que tivemos... 36 crianças para 4 computadores em 1 hora! Isto é... uns 15 minutos para cada grupo, 3 crianças por computador.

Além dessas duas aulas eu também tive uma hora com eles para falar sobre o Brasil, mostrei fotos e falei muito genericamente sobre nossas paisagens, animais, praias, rios, índios, cachoeiras, comidas, frutas, legumes, bebidas, capoeira, Pelé, Ayrton Sena, Lula... eu aproveitei para falar um pouco sobre a relação histórica entre o Brasil e a África. As crianças adoraram! Ficaram encantadas com a quantidade de água que temos, com os animais e com a capoeira (cantamos juntos "paranauê"). Perguntas: se no Brasil tinha cachoeiras grandes, qual a principal atividade econômica no Brasil, como falar em português as saudações principais (bonjour, au revoir, etc)...

No final... falando no Brasil... teve uma partida de futebol e o Eric veio para participar também! Foi a maior festa! O professor de Educação Física fez aquecimento e tudo... tudo organizado! Eric jogou com o time dos pequenos e dos grandes... os pequenos brincaram mais do que jogaram, mas os grandes levaram a sério! E o "Brasil" ganhou de 2X1!

O encerramento foi legal. As crianças apresentaram danças, poesias e peças de teatro para os pais e as autoridades presentes. Teve entrega de diploma e tudo! Tanto o coordenador do projeto (Armand) quanto o Diretor da DREBA (Ganou) nos agradeceram muito pela nossa colaboração e participação... fomos até citados! Eu falei das atividades que fizemos, mostramos para os pais o jogo "morto-vivo" e fui convidada para entregar um diploma. Depois ainda teve uma pequena confraternização com os pais e um lanche com as crianças... mas não ficamos até o final, o Sidibé (colega da UGCPA) tinha pegado o computador emprestado com o Eric para fazer uma reunião e queria passar em casa para a tradicional visita de boas-vindas!

A visita foi boa, Sidibé nos contou um pouco sobre a sua trajetória profissional e nos explicou varias coisas culturais. Por exemplo, ele comentou que nós ocidentais, geralmente falamos abertamente se estamos ocupados ou se temos um compromisso quando alguém nos faz uma visita ou quando a visita dura e precisamos sair. Mas aqui, diz ele, nunca, nunca vão falar que você chegou numa hora indevida ou que precisam sair. Vão sempre te receber, tocar a conversa tranquilamente e dar um jeito de avisar (discretamete) a pessoa que está esperando ou simplesmente deixar de fazer o que estava previsto...

Bem, tivemos a oportunidade de conhecer esse projeto logo no inicio da nossa temporada aqui e foi ótimo! Estivemos com eles por pouco tempo (algumas horas espalhadas na semana) mas isso ajudou a nos sentirmos mais à vontade e a chegar aos poucos. As crianças são sempre crianças como em todo canto: curiosas e espontâneas! Um exemplo: na fila do aquecimento antes do jogo, os meninos ficaram passando a mão no braço do Eric, achando estranho a quantidade de pêlos! E na hora da troca de time, quando o Eric entrou para o time dos "sem-camisa" algumas crianças morreram de rir! Deve ter sido a primeira vez que eles viram um branco peludo!!! Os animadores e organizadores do projeto foram muito legais e atenciosos conosco (ganhamos sanduiche, amendoim, suco, sacolé...) e sempre que puderam nos agradeceram pelo pouco que fizemos. Gostamos muito dessa iniciativa, infelizmente o comum aqui é passar as férias fazendo nada, na rua ou trabalhando duro (no campo ou em casa). Com esse projeto as crianças se reúnem para fazer atividades a que pouquíssimos têm acesso aqui, nem mesmo na escola. Eles querem continuar o projeto nos próximos anos e quem sabe ocupar as crianças por mais tempo, mas para isso dependem sempre de ajuda. Dificilmente estaremos aqui ano que vem, mas pretendemos ajudar de alguma forma. Que tal nos reunirmos numa vaquinha e proporcionar mais momentos como esses para mais crianças ou por mais tempo? Topam? Lembrem-se de que o Real e o Euro valem muito aqui! Garanto que essa doação chega nas mãos de quem sabe (esperamos) o que fazer com ela!

Selecionamos algumas fotos, elas mostram as atividades da colônia de férias e também um pouco mais de como se vive por aqui...
Ala ka dugu "nh"uman gwe!
(Que Deus nos faça passar uma boa noite!)