segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Conversando com agricultores

Olá pessoal,

essa semana finalmente comecei minhas andanças pelas cidadizinhas rurais da região da Boucle du Mouhoun. Boucle em Francês significa laço, e a região tem esse nome por causa da volta que o rio Mouhoun (lê-se "Mu-um") faz por aqui. Fui a Kari (20 km de Dédougou), a Wetina (25 km de Dédougou), e a Nouna (55 km de Dédougou). Encontrei 5 agricultores, e tive conversas informais, mas que fui orientando para os assuntos que gostaria de tratar na minha tese, pouco a pouco ou "doni doni" como eles dizem por aqui.

Comecei a colocar em prática algumas das dicas que me deram sobre "entrevistas" com os agricultores daqui. A primeira, e que me preocupou bastante quando ouvi, é de não gravar nem tomar notas durante a conversa com os agricultores. Toda a questão aqui é criar uma relação de confiança, e eles são bem ressabiados, pelo jeito desconfiariam do que eu faria com as informações que estaria recolhendo com tanta precisão (no caso de gravar ou tomar notas). Me preocupei de conseguir lembrar dos detalhes da conversa, mas concordo que colocar em risco a confiança na relação não seria uma boa... inclusive a validade das informações que recolheria assim poderia ir por água abaixo. A ideia é fazer as entrevistas mais em forma de conversa, aproveitar o fato de não estar tomando notas para me concentrar a fundo na conversa e em todos os sinais não verbais que podem estar vindo dos interlocutores! Gostei das primeiras experiências! Para não perder alguns detalhes que me parecem mais importantes, logo depois das conversas e antes de chegar em casa, paro no meio da estrada para tomar algumas notas. No caso de Kari e Wetina calha muito bem, pois a alguns quilômetros na direção de Dédougou tem um enorme Baoba! viram !?! aproveito a presença dessa majestade para tomar minhas notas.

A Ju comentou um pouco sobre o Ramadan, a época de jejum dos muçulmanos. Alguns dos agricultores que encontrei são muçulmanos, então aproveitei para aprender um pouco mais sobre essa prática deles. A primeira coisa que eu gostaria de dizer é que eles encaram essa prática principalmente como um exercício de controle de si mesmo; uma mistura de esforço e sofrimento, uma espécie de sacrifício. Durante os trinta dias do Ramadan a rotina é mais ou menos a seguinte: os homens acordam por volta das 4h da manhã (as mulheres mais cedo ainda pois têm que preparar a refeição) e tomam um "café da manhã" até no máximo às 5h, quando começa oficialmente o jejum do dia. Fazem suas atividades normalmente até às 18h30 quando começam tomando água e comendo algo leve, para em seguida ir à primeira oração da noite na mesquita. Depois voltam pra casa para jantarem de verdade, e retomam as orações, até a hora de ir dormir ou, dependendo da família, passam toda a noite rezando! O marceneiro que fez nosso teto aqui em casa, disse que na sua família eles fazem a oração durante toda a noite apenas nos últimos dez dias... ele disse que é de deixar exausto mesmo! O trigésimo dia de jejum é finalizado por uma grande oração, onde todos se reúnem na mesquita. O dia seguinte é de festa! Se entendi a segunda mais importante no calendário muçulmano (atrás somente da festa do cordeiro, que acontece 70 dias depois do final do Ramadan).

Bem, tenho que ir, a gente continua essa "conversa" na próxima! Digam ai o que vocês acham, comentem, perguntem, se a gente não souber a resposta a gente aproveita pra perguntar diretamente pra eles! :-) beijos e abraços a todos vocês, até.